The Craft of an Absolute Winner: Characterization and Narratology in the Novels of Machado de Assis

Dom Casmurro e a câmera: Desafios da adaptação do narrador autoconsciente e não-confiável

“…Não é de se admirar que os maiores desapontamentos, por parte dos leitores letrados, tenham a ver com adaptações de romances modernistas como os de Joyce, Woolf e Proust, exatamente porque nesses casos a lacuna estética entre fonte e adaptação parece ser estarrecedora, menos por causa das falhas inerentes ao cinema do que devido à opção pela estética pré-modernista. (STAM, 2008, p. 34) As obras de Machado de Assis, marcadamente autoconscientes, reflexivas, tanto na estrutura como no discurso, representam, portanto, um grande desafio ao serem adaptadas, uma vez que utilizam procedimentos e técnicas associados ao modernismo, tendo, como avalia Maria Luisa Nunes (1983), antecipado técnicas do romance XX.…”

“…Juntas, elas funcionam como estratégias de avaliação que requerem uma interpretação ativa por parte do leitor (HUTCHEON, 2001, p. 74-75). Nunes (1983) Somando-se a isso, poucos trabalhos de diretores brasileiros poderiam encaixar-se tão bem no predicativo "estilizado" quanto o de Luiz Fernando Carvalho, sendo associado a um estilo bem específico de mise-en-scène. A estética do diretor-autor foi se tornando, de certa forma, cada vez mais autorreferente, quase uma recorrente citação de si mesmo, no estilo que desenvolveu.…”

“…O autor de Dom Casmurro destaca a importância de um "certo sentimento íntimo", qualidade que declarava acreditar ser essencial para compor uma obra literária, independentemente de seu contexto nacional ou cultural. Esse sentimento, argumenta, permitia aos autores conectarem-se com os leitores em um nível universal, para explorar as experiências humanas compartilhadas que transcendiam as fronteiras do tempo e do espaço.As análises dePassos (2007), Rocha (2013) eNunes (1983) convergem no sentido de atribuir à relação com a leitura e a tradição literária o trunfo das inovações estéticas e formais de Machado. Essas reflexões reiteram a importância de se estudar a intertextualidade entre obras da literatura e a habilidade dos autores em se apropriar da tradição literária para criar algo novo.…”

“…É o caso da estadunidense HelenCaldwell (2008), cujo Otelo brasileiro de Machado de Assis, como anteriormente mencionado, de 1960, foi um divisor de águas na crítica machadiana, estabelecendo um paradigma de interpretação para autores comoGledson (2019) ePassos (2007). Estes, assim comoNunes (1983),Guimarães (2017) e Rocha (2013; 2019), também já referidos neste trabalho, figuram entre muitos outros estudiosos que tratam dessas relações. O interesse revelado em tantos estudos pela intertextualidade em Machado reporta-se a uma abordagem que teve suas primeiras instâncias ainda no início da crítica machadiana, como se observa no trabalho de Eugênio Gomes, As influências inglesas de Machado de Assis, de 1939.…”

“…Sua entrada estrepitosa, subindo na mesa ao som da música "Iron man", do Black Sabbath, cria um contraste humorístico e absurdo entre a trilha moderna e o ambiente sóbrio do seminário do século XIX. A teatralidade exacerbada e o número musical diegético conferem um tom de artificialidade que remete ao obras como Dom Quixote, de Cervantes, Tristram Shandy, de Sterne, e Jacques, le fataliste, de Diderot, o processo de composição funde-se com o resultado estético, que é apresentado de maneira explícita como representação Nunes (1983). afirma que o uso da paródia e da autoparódia nos romances da segunda fase de Machado de Assis deixa claro que se trata de uma metaliteratura, ou literatura sobre literatura, ou seja, são textos autoconscientes.…”