Condomínio Village Itaipava, casa 19 25745-071-Petrópolis -RJ -BrasilRecebido para publicação em junho de 2010. Aprovado para publicação em agosto de 2011.FARIA, Lina; CASTRO SANTOS, Luiz A. As profissões de saúde: uma análise crítica do cuidar. História, Ciências, Saúde -Manguinhos, Rio de Janeiro, v.18, supl. 1, dez. 2011, p.227-240 Milton Mayeroff (1971, p.10) Este artigo aborda o tema do cuidar como processo fundamental da atenção à saúde e requisito indispensável da formação em fisioterapia e enfermagem. É nesse campo que estão em foco, além da prevenção e de seus 'grandes números', os cuidados com pacientes, tomados em sua individualidade inalienável. Busca-se abrir um leque de questões, do ponto de vista conceitual, sobre a organização social do cuidado, em relação à doença, à cura e à morte como 'atos organizacionais' (Chambliss, 1996). Papéis, instituições e contextos organizacionais -do hospital ao trabalho de saúde pública, seja na metrópole ou em um posto de saúde rural -são produtos de interações sociais, envolvem grupos de interesse, conhecimentos especializados, ocupações e profissões, hierarquias, conflitos e alianças, negociações e imposições. Os enunciados 'fortes', entre as políticas, programas e estratégias mais recentes no campo da saúde, concentram-se nos propósitos de humanização do cuidar, no direito à atenção integral, universal e equitativa. No entanto, basta acompanharmos o dia a dia nos noticiários, sobretudo das grandes cidades, para termos ciência da luta dramática da população brasileira para buscar, sem sucesso, uma atenção digna e integral. Há processos sociais de exclusão e marginalização aí envolvidos, particularmente no tocante à 'organização social do cuidar', que têm sido negligenciados em análises e documentos substantivos e programáticos de estudiosos e formuladores de políticas. O presente artigo pretende, em seu foco central e em alguns de seus desdobramentos, analisar e detalhar tais dimensões e processos que, a nosso ver, exigem profunda revisão e reflexão.No terreno da exclusão, estão em jogo os instrumentos de análise que remetem à estrutura de classes e a dimensões e processos históricos que, em cada país, conduzem aqui a graus de vulnerabilidade, ali à total marginalização. Há problemas candentes na organização social do cuidar que, por assim dizer, são anteriores à luta pela atenção equitativa. Referimo-nos ao próprio sentido, ou significado, do cuidar, que exige um esforço de análise e interpretação calcado no instrumental sociológico de uma fenomenologia do cuidar. Em outras palavras: há desafios para os programas e profissionais de saúde que se somam à superação da exclusão e que se relacionam, diretamente, à própria natureza do cuidar.Considere-se, desde logo, a natureza da relação entre o médico e o paciente, tema recorrente na literatura. Não apenas em países sob ritmos recentes de modernização do complexo médico-hospitalar, como é o caso brasileiro, mas também em hospitais e ambulatórios de quaisquer países, a perda de prestígio do clínico e o crescente...