O português europeu dispõe de um conjunto diversificado de formas verbais que remetem para a prospetividade, das quais se destacam o futuro simples, a construção ir (no presente ou no futuro) + infinitivo e o presente do indicativo com valor futurativo. Todas estas formas manifestam divergências evidentes ao nível do seu significado, embora partilhem igualmente propriedades comuns. Com base na análise de um corpus constituído por 18 textos de caráter informativo, procuramos dar conta das semelhanças e diferenças que se observam entre as estruturas em questão, assim como das relações que estabelecem entre si. Nesse sentido, constatamos que, ainda que estas construções sejam frequentemente utilizadas para a localização das situações com que se combinam num intervalo posterior ao momento da enunciação, cada uma delas apresenta características definitórias próprias: ir + infinitivo restringe-se sobretudo à expressão da temporalidade; o futuro simples combina valores temporais e modais e o presente com valor futurativo indica posterioridade preferencialmente associada ao domínio do presente. Os contrastes entre estas configurações são ainda confirmados pelas divergências combinatórias e interpretativas que se verificam no contexto de verbos modais como poder ou dever. Em termos gerais, e a avaliar pelas relações entre os diferentes tempos verbais considerados, podemos afirmar que a expressão da futuridade no português europeu parece estar num constante processo de reajustamento, sendo fundamental considerar o contributo de outros fatores, como os adverbiais temporais, as propriedades lexicais de certos verbos ou o contexto discursivo, para a plena compreensão das conexões temporais no interior dos textos.