“…Quer dizer, pretendo tratar a morte à luz do que ficou conhecido como "virada sensorial": um conjunto de estudos interdisciplinares dedicados aos sentidos, ou mais especificamente, à "dinâmica relacional (intersensorial -ou multimodal, multimídia) e frequente conflituosa natureza do nosso engajamento cotidiano no mundo sensorial" (HOWES, 2016, p. 115, tradução nossa). Nessa seara investigativa, o cadáver se apresenta como um ponto capital de análise, sendo não apenas um símbolo da sociedade, mas também algo que provoca impressões sinestésicas nas pessoas que o circundam -um agente produtor de significados e sentidos, de interações sociais e sensoriais (HARPER, 2010;MARTÍNEZ, 2013;MATHIJSSEN, 2021;MEDEIROS, 2014MEDEIROS, , 2016NEVES, 2016;NEVES;DAMO, 2016;TESTONI et al, 2020) A título de reflexão, usarei a tanatopraxia enquanto caso de estudo, visto que se trata de um serviço criado para se lidar com o corpo morto, cuja função primordial é retardar o processo biológico de sua decomposição. Nas sociedades modernas, o desenvolvimento científico e técnico deixou marcas indeléveis nas relações entre vivos e mortos, de modo que até os cuidados com o corpo morto passaram a ser realizados por indivíduos qualificados.…”