INTRODUÇÃOC onquanto o problema de se haveria ou não uma crise do estado de bem-estar tenha estimulado um conjunto expressivo de contribuições, o retorno a ele se justifica por pelo menos duas razões. Em primeiro lugar, a necessidade de sistematizar essas contribuições; em segundo lugar, a importância de se avançar a partir da constatação de uma crise ou não crise em direção a outros dilemas que se apresentem. Neste artigo, tentaremos, pois, sistematizar a questão de se o estado de bem-estar estaria em crise visando, em última instância, o horizonte mais amplo de transformação do mesmo. Esse exame é dependente, como é natural, de definições operacionais de welfare state e crise. Para fins deste artigo, definiremos o welfare state como um conjunto de intervenções públicas visando à promoção de bem-estar e envolvendo (algum grau de) redistribuição de renda. A definição de crise é mais problemática, tendo variado substancialmente no debate público das últi-mas décadas. Enquanto algumas definições rapidamente perderam credibilidade, como as que anunciavam já nos anos 1970 o fim iminente do estado de bem-estar por conta de constitutivas contradições internas, agudizadas por seu crescimento incontido, outras, evocando noções mais vagas de problemas crônicos e em larga escala, parecem resistir melhor. Na realidade, a doutrina um tanto paradoxal de um estado de crise permanente remonta aos anos dourados de expansão do