Os casos de Flinders Medical Center (Austrália), Royal Bolton (UK), ThedaCare e Virginia Mason (USA) são exemplos de hospitais que conseguiram melhorar o seu desempenho através da utilização de metodologias Lean. Todavia, nem sempre o processo é tão fácil como aparenta. Não é que a aplicação do Lean seja difícil mas exige condições especiais. Efectivamente, o Lean é "um compromisso de mudança da cultura da organização, com a aplicação do método científico para continuamente melhorar os processos de trabalho desenvolvidos pelas equipas clínicas, criando valor concreto para os doentes".1 Há especialistas que consideram que o uso do Lean será crucial para lidar com os actuais desafios da saúde.2 Bem implementado, poderá ter um contributo significativo para a optimização do Serviço Nacional de Saúde. Este texto pretende abordar, de forma crítica, o uso do Lean na saúde.O aumento da complexidade da prestação de cuidados de saúde pressiona à re-organização dos serviços de saú-de: o envelhecimento da população e das co-morbilidade fazem elevar a procura nas urgências, as listas de espera e os custos. Simultaneamente, têm surgido um conjunto de ferramentas e métodos de gestão que prometem ajudar. 3,4 Muito à semelhança do desafio das novas tecnologias, onde nem todas são realmente necessárias, é preciso ter consciência do valor destas novas ferramentas de gestão. Existe evidência que determinadas práticas de gestão contribuem efectivamente para melhor uso dos recursos, e que, em condições adequadas, melhoram também a qualidade dos serviços. [3][4][5][6] A qualidade na prestação de cuidados de saúde deve ser um desígnio civilizacional. Os serviços de saúde devem ter a competência para assumir a responsabilidade ética de usar bem os recursos existentes. Esta responsabilidade obriga à reflexão estratégica e à utilização, quer da lei quer de instrumentos de gestão profissional, que permitam a melhor utilização dos recursos, e uma aprendizagem sistemática.7 Não esquecer que o propósito da qualidade é procurar aprender com o que se faz e actuar para a sua melhoria contínua. 7 Isto diz respeito aos gestores, mas também aos profissionais de saúde e aos doentes.Há um aspecto central na teoria da gestão que é o acesso a informação, sem a qual não é possível compreender como a organização está a funcionar e corrigir se necessário.3 Ao nível dos serviços de saúde existem dois grandes desafios da gestão: a utilização da evidência de gestão (optimização dos processos de trabalho, boa adequação das tecnologias, etc.); e a inovação de gestão. A inovação de gestão contempla a qualidade, a centralidade e experiência do doente, o uso de novas tecnologias e de novos serviços.6 A inovação de gestão procura alavancar o efeito dos recursos, mas exige alinhamento estratégico a médio--longo prazo. A utilização dos recursos feita de acordo com, por exemplo, as apostas na qualidade, ou na utilização da telemedicina, etc. O desafio está em fazê-lo no contexto dos cuidados de saúde, com o adequado envolvimento dos profissionais e dos doentes.4 Poré...