Resumo: Este artigo estuda a participação das mulheres negras no grupo dos ricos no Brasil. São definidos como ricos aqueles que integram o conjunto de 1% com maiores rendimentos advindos do trabalho principal. Através de modelos logísticos, estima-se em que medida a escolaridade, incluindo a segmentação por áreas de formação superior, contribui para as desvantagens desse grupo de mulheres quanto à participação entre os ricos. Estima-se também a contribuição relativa da remuneração discriminatória dos níveis educacionais. O estudo aborda também como a condição racial afeta a condição de status das mulheres negras ricas, sendo o conceito de status operacionalizado a partir das dinâmicas conjugais. O que se observa é que mulheres negras ricas, além de tenderem a não contar com um cônjuge, experimentam maiores probabilidades de estarem unidas a cônjuges não ricos, em comparação com as mulheres brancas. Isso indica que a condição racial deprecia suas possibilidades de conversão da afluência econômica em status social. A análi-se da dinâmica matrimonial é realizada com base em modelos logísticos multinominais. Os dados são provenientes do Censo Demográfico de 2010.Palavras chave: desigualdade racial, desigualdade de gênero, riqueza, status, endogamia racial.
IntroduçãoA inserção das mulheres no mercado de trabalho é um fenômeno com múl-tiplas dimensões. Com efeito, há uma relação muito estreita entre a diferenciação do mercado de trabalho e a inclusão feminina (Goldin, 1994). Por outro lado, mudanças no campo da cultura vêm alterando o comportamento das mulheres frente ao mercado de trabalho (Lombard, 1999). A pesquisa quantitativa sobre o tema tem se dedicado majoritariamente a três tópicos. Embora relacionados, cada um leva a abordagens com unidades de análise distintas.O primeiro tópico diz respeito ao próprio nível de inclusão no mercado de trabalho. Trata-se de perceber como a inserção das mulheres evolui ao longo do tempo, sobretudo a partir das últimas décadas do século XX, assim como estudar os fatores que condicionam essa evolução. Não há apenas um aumento quantitativo na participação das mulheres no mercado de trabalho, essa participação também dá sinais de consolidação, estendendo-se por todas as faixas etárias (antes havia concentração em mulheres jovens, indicando talvez a saída do mercado de trabalho em função do casamento) e havendo também mais forte tendência de que mulheres desempregadas persistam na população economicamente ativa (Hoffmann & Leone, 2004).