“…De fato, Atwood, ao compor epígrafes para cada seção do livro, seleciona, dentre outros textos, trechos de obras góticas clássicas, estabelecendo diálogo franco e aberto com o cânone. Além de Edgar Allan Poe, encontram-se excertos de Suzanna Moodie, Emily Dickinson, Robert Browning, Nathaniel Hawthorne, todos esses autores geralmente associados ao gótico e, ainda que isoladamente não o sejam, o conjunto de trechos selecionados constitui um corpus que aponta para uma interpretação gótica, caracterizando a performatividade desse gênero literário, apontada por Spooner (2006). Enfatizando a fantasmagoria e a indistinção de contornos fixos e ressaltando a ambientação sublime e a loucura, as epígrafes góticas de Alias Grace contribuem para a construção multifacetada e, por vezes, incoerente de sua protagonista, além de incluírem a obra no campo da metaficção historiográfica, conforme descrita por Hutcheon (1991), uma vez que a trama se constrói em torno de fatos ocorridos no Canadá novecentista, os quais também são citados nas epígrafes sob a forma de recortes de documentos históricos diversos.…”