A problemática sociotécnica dos desastres naturaisOs desastres naturais constituem um tema de estudo muito controverso. Após quase um século de pesquisa sistemática sobre o tema, na sociologia não existe ainda consenso sobre o que é um desastre e sua definição encontra-se em negociação (Quarantelli, 1998; Quarantelli e Perry, 2005). Essa disputa reflete tanto a diversidade de disciplinas mobilizadas no debate, por exemplo, a sociologia, a geografia, a antropologia, a epidemiologia, a psicologia e as disciplinas técnicas, meteorologia, sismologia, engenharias etc. (Alexander, 2000), como também as ambivalências dentro de uma mesma disciplina, como é o caso da sociologia (Tierney, 2007). Além disso, essas disputas refletem as estratégias de gestão e resposta (Revet, 2009). Nesse sentido, a temática dos desastres constitui um espaço de tensão porque abriga interesses muito heterogêneos. A definição dos desastres constitui, portanto, um desafio ao mesmo tempo cognitivo e político.Esses impasses conceituais parecem refletir o contexto sociocognitivo de desenvolvimento institucional da pesquisa dos desastres. A preocupação com os desastres possui uma longa história (Bryant, 1991;Schenk, 2007; Kozák e Cermák, 2010) e atenção da mídia (Pantti et al., 2012) e estes são onipresentes na vida cotidiana das pessoas (Crowe, 2012). As primeiras contribuições remontam ao início do século (Prince, 1920;Carr, 1932), mas é somente após a Segunda Guerra Mundial que se estabelece um processo de produção sistemática de informações (Quarantelli, 1978).