Estilo e função em artefatos arqueológicos ou etnográficos têm sido estudados por uma miríade de pesquisadores através das mais diversas abordagens teóricas. Nesse contexto, o estudo de pontas de projétil tem sido particularmente útil para gerar um maior conhecimento acerca desses artefatos como marcadores de identidade, refletindo potenciais fronteiras entre grupos. Este trabalho visa explorar as diferenças na morfologia de pontas bifaciais holocênicas oriundas de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul à luz dos conceitos de estilo e função da Arqueologia Evolutiva. Foram analisadas 248 pontas através de morfometria geométrica em duas dimensões. Embora nossa análise envolva dados de morfometria geométrica da ponta completa, a forma dos pedúnculos foi considerada como sendo de particular importância. De acordo com as expectativas teóricas e os modelos heurísticos de estilo e função propostos por Dunnell (1978a), a especificidade na forma dos pedúnculos das pontas pode ser considerada um recurso estilístico cujo aspecto e replicação diferencial entre grupos se deu, muito provavelmente, por processos estocásticos. Assim, nossa expectativa teórica é que a forma dos pedúnculos reflita escolhas dos grupos e, em última instância, seja um reflexo de possíveis fronteiras culturais pré-históricas. Nossos resultados apontam para a presença de diferenças importantes no tamanho e forma geral das pontas de Minas Gerais, São Paulo e Paraná em relação às pontas do Rio Grande do Sul. Tais diferenças podem ser observadas também na morfologia dos pedúnculos, mostrando a utilidade da aplicação da dicotomia heurística entre estilo e função (sensu Dunnell 1978a) para melhor entender a presença de potenciais fronteiras culturais pretéritas.