Neste artigo propomos um diálogo entre as teorias antirracistas e o campo das humanidades digitais, fundamentado no pensamento de Frantz Fanon e nas produções teóricas do hacktivismo. Abordamos algumas possibilidades da história em uma sociedade digitalizada, mas também as contradições que se manifestam no fenômeno. As relações entre capitalismo, colonialismo e racismo são fundamentais para as pesquisas calcadas nas humanidades digitais. Embora o colonialismo, em Fanon, seja, antes de mais nada, uma forma particular de exploração econômica, a sua reprodução seria inviável sem o recurso a formas particulares de dominação e soberania onde os quais o racismo se apresenta como elemento fundamental. No artigo, partindo do método fanoniano da sociogênia, buscamos articular esses saberes com o campo das humanidades e história digital. No entanto, a natureza e a profundidade das violências que acompanharam o advento da modernidade e mesmo do humanismo ocidental, mas também a sua crítica nos permitem levantar as seguintes perguntas: que humano é esse das humanidades digitais? Quais possibilidades de contribuição teórica para a História emergem do entrecruzamento entre a crítica hacker-fanoniana e as humanidades digitais? O colonialismo está plasmado na teoria da história, sob a égide da ideologia do eurocentrismo, ocultando produções teóricas africanas e afrodiaspóricas, desdenhando das ferramentas intelectuais, métodos e conceitos cruciais para a compreensão de nossa sociedade. Assim como na cibercultura, o colonialismo digital projeta a ideologia californiana com a reabilitação do fardo do homem branco, agora reelaborado sob a égide do fardo do nerd branco. Aqui se projeta o horizonte dos Estudos Hacker-Fanonianos, o uso das tecnologias digitais na pesquisa e docência, deve acompanhar a compreensão de que modo eles são possíveis, quais relações de produção ocultam, como se realizam.