, colocado no youtube por uma das pessoas que assistiu ao espetáculo, atingiu dezenas de milhar de visualizações. Transformando-se num fenómeno viral, a canção, partilhada incessantemente nas redes sociais, provocou um debate público intenso sobre o emprego dos jovens, a generalização da condição precária e os contornos da vivência juvenil no nosso país. "Parva que Sou" inspirou ainda a convocação de uma manifestação "laica, apartidária e pacífica", organizada a partir de um evento de Facebook, criado por quatro jovens que pareciam personificar a situação descrita pela música. Esse protesto viria a acontecer em mais de uma dezena de cidades, juntando cerca de 300 mil pessoas em Lisboa e 80 mil no Porto, segundo os organizadores.
2Cerca de um mês antes do concerto do Coliseu, num outro ponto do mundo, um jovem trabalhador precário, Mohamed Bouazizi, vendedor ambulante de 26 anos, ateava fogo a si próprio em desespero. Depois de não conseguir licença para trabalhar na rua e de, em função disso, ser assediado pelas autoridades tunisinas, a quem não conseguia continuar a pagar os subornos, acabou por ter a sua mercadoria e a sua balança confiscadas. O fogo não o matou nesse dia e o seu exemplo, que se tornou notícia, inspirou protestos e outras ações idênticas na Tunísia. Bouazizi acabaria por morrer a 4 de Janeiro -mas o regime de Bem Ali tinha também os dias contados. Entre o concerto do Coliseu e o protesto da Geração à Rasca 3 , que aconteceu a 12 de Março, houve um outro acontecimento que se difundiu pelo mundo árabe e pela Europa. As imagens do protesto dos egípcios contra a ditadura, muitos deles jovens e insatisfeitos não apenas com a repressão mas com o desemprego e a precariedade no seu país, correram mundo. Esse movimento, aparentemente espontâneo, aparentemente sem partidos ou sindicatos por detrás, seria o prelúdio da uma revolução cujos resultados ainda não são evidentes e cujos impactos ultrapassaram em muito o Egito 4 .
4Menos de dois meses depois da primeira ocupação da praça Tahrir, teve lugar em Portugal uma das maiores manifestações da nossa história recente, a da "Geração à Rasca". A precariedade dos jovens, mas também as críticas às instituições políticas e económicas, ocuparam nesse dia a rua e foram objeto de debate e de confronto entre discursos, representações e leituras da realidade contrastantes. O restante período do ano de 2011 foi rico em mobilizações sociais que "partiram à reconquista do espaço público, mediático e político" (Davis, 2012), das acampadas dos Indignados em Madrid ou Barcelona (Taibo, 2011; Viejo, 2011) ao movimento Occupy nos Estados Unidos (que se estendeu bem para além de Wall Street)
5, dos tumultos ingleses às manifestações na Grécia ou ao protesto dos jovens pelo direito à habitação em Israel. A praça, a rua e a figura do manifestante voltaram ao centro da política.
5No relatório sobre as tendências do emprego para a juventude publicado em 2011 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), esta agência refere-se aos jovens de hoje como uma "geração perdida"....