O Dialeto Caipira de Amadeu Amaral (1920), sempre referenciado como seminal nos estudos dialetológicos do Português do Brasil pela Linguística Brasileira, completa um século neste ano de 2020. Neste artigo, que intenta ser também uma pequena homenagem ao autor e sua obra, vamos analisar, numa perspectiva discursiva da História das Ideias Linguísticas no Brasil (AUROUX, 2009; ORLANDI, 2001) e da noção de autor/autoria (MAINGENEAU, 2010), e considerando os delineamentos da Linguística Popular (NIEDZIELSKI; PRESTON, 2003), a questão da identidade do caipira, apontando para marcas linguísticas que permaneceram ao longo de todo este tempo. Vamos utilizar excertos do documentário Saberes do Vale (2018) para verificar, nos enunciados dos moradores do Vale do Paraíba, as características dantes registradas por Amadeu Amaral. Partindo da própria definição de Caipira proposta n’O Dialeto, definição esta que apresenta a questão de identidade como uma propriedade categórica, tentamos verificar a persistência de marcas de subjetividade (e não apenas linguísticas) no falar e no viver destes habitantes do interior de São Paulo.