A respeito do artigo de Lima et al. 1 , que apresenta resultados de pesquisa cujo objetivo foi identificar os fundamentos que conduzem a tutoria acadêmi-ca do Projeto Mais Médicos (PMM) para o Brasil em Santa Catarina, ofereço algumas considerações, a partir da posição de ter sido protagonista da tutoria (primeiro tutor) do PMM nesse estado, por aproximadamente 18 meses. Esclareço que desliguei-me do PMM em início de 2015 devido a afastamento do país, e não participei da pesquisa aqui comentada.O artigo menciona como resultados três fundamentos da tutoria: apagar incêndios, qualificação do Projeto e perspectiva processual. Quanto ao primeiro tópico, oferece pouco esclarecimento sobre que incêndios seriam estes. Registro que na chegada e instalação dos médicos do PMM, grande parte dos municípios não tinham se preparado para os receber e realizar suas contrapartidas (alimentação e alojamento, ou recursos financeiros equivalentes para fornecer), o que gerou muitos problemas, demandando ação da supervisão/ tutoria. Como a chegada foi em remessas durante muitos meses, esse tipo de "incêndio" consumiu grande tempo da supervisão e tutoria.Um segundo tipo de problema, relacionado com a qualificação do PMM, diz respeito as relações entre profissionais e gestores locais. A existência de um supervisor e tutor com expertise em atenção básica, independentes da municipalidade, a mediar a relação dos médicos participantes com os serviços e a supervisionar periodicamente sua atuação foi uma inovação do PMM. A impunidade, opacidade e arbitrariedade de alguns gestores na sua relação com os profissionais da atenção básica, sobretudo em cidades pequenas, ficaram um pouco menores e mais visíveis. A supervisão DOI: 10.1590DOI: 10. /1413 trouxe à tona alguns arranjos espúrios e posturas clientelistas que deformavam rotinas assistenciais. E também visibilizou problemas técnicos e ou éticos (condutuais) de alguns médicos. Todavia, o supervisor só podia orientar médicos e gestores, levar a situação ao tutor, que também tinha as mesmas restrições, e ambos levarem os problemas à Comissão de Coordenação Estadual (CCE). Em situações simples, por exemplo, ausências injustificadas de médicos às suas atividades assistenciais, o tutor e o supervisor não tinham poder para tomar decisões. O gestor informava o supervisor, este tentava alguma mediação e se não houvesse resultado solicitava formalização por escrito, que encaminhava ao tutor (que também só podia mediar e orientar) e à CCE. Esta última notificava os envolvidos, por escrito, para que a reclamação e a defesa escritas fossem apreciadas em reunião da CCE e uma decisão fosse tomada -por exemplo, uma advertência ao profissional. Havia uma demora significativa no processo (um ou dois meses, pelo menos), devido a rotina mensal de reuniões da CCE, gerando, por vezes, agravamento das situações problemáticas. Vale mencionar que os problemas dessa natureza ocorreram com poucos profissionais, a grande maioria brasileiros e estrangeiros não-cubanos.A qualificação do PMM, que por hipótese envolve qua...