O foco deste artigo são livros de “confissões políticas” publicados por mulheres, que seguiram carreiras políticas no Brasil. O objetivo fundamental consistiu em apreender os condicionantes sociais, políticos e culturais intervenientes nos seus itinerários, correlativamente às estratégias de produção de “memórias” e de administração de autoimagens. O ponto de partida é a análise das características gerais de parlamentares cuja concentração de recursos, em certas configurações de luta, traduziu-se na conquista de multinotabilidades e lugares relativamente bem situados nos domínios culturais e políticos. Portanto, são “raras” no jogo político não somente por serem quantitativamente escassas, mas também por deterem meios raros de atuação e, relativamente a outras/os profissionais da representação, estarem entre “notáveis”. Depois, mediante o exame de quatro casos particulares, é examinado como as inscrições e posicionamentos são marcados por ambivalências germinadas nas ocorrências biográficas. Assim, é possível ponderar tanto sobre as bases da autoridade (auto) conferida para expor a “sua própria história” ou a sua versão “da história”, como podemos atentar ao trabalho de mobilização de “experiências” e justificativas articuladas em circunstância de ocupação de posições “em falso”. Ou seja, nas quais as agentes se encontram em condições de incerteza com relação ao seu protagonismo e persistência, particularmente, nas disputas políticas.