“…Desde 2014 o Brasil vem enfrentando contínua crise econômica e política, comprovado catalisador da exposição cambial e da volatilidade da taxa de câmbioSUNG, 2005;HASSAN et al, 2016), com destaque para os desdobramentos das Operações "Lava-Jato" e "Carne Fraca" no âmbito da Polícia Federal, que envolveram as empresas BRF S.A. e JBS S.A., tornando relevante o debate acerca do disclosure da exposição em moeda estrangeira em mercados globais cada vez mais integrados e voláteis (MAKAR; HUFFMAN, 2013), principalmente em se considerando a existência de normas contábeis obrigatórias, tais como o CPC 40.Nesse contexto, nosso estudo analisou as DFP dos exercícios de 2014 e 2018 das companhias abertas do setor de carnes e derivados listadas na B³, participantes do Novo Mercado e eminentemente exportadoras, com o objetivo de averiguar se as normas contábeis referentes à evidenciação de itens do balanço patrimonial expostos à variação de cotação de moedas estrangeiras (variação cambial) estão sendo devidamente implementadas e, principalmente, se ao usuário da informação é possível aferir, com clareza, a exposição cambial líquida e sua sensibilidade às variações do câmbio.Nossos resultados evidenciam que nenhuma das companhias torna públicas, de forma integral, suas políticas de gestão de riscos cambiais, ou mesmo as disponibiliza por meio de sua área de RI, ainda que se trate de informações sabidamente relevantes para os usuários externos (RODRIGUES; GALDI, 2017). Tal insuficiência no disclosure de políticas internas, já verificada em estudos anteriores(COSTA JUNIOR, 2003;DARÓS;BORBA, 2005; AMBROZINI, 2014), pode ser decorrente do caráter privado das informações acerca de gestão de risco ou mesmo à ausência de value-relevance, resultados alinhados com a literatura(DYE, 2001;VERRECCHIA, 2001;ESPEJO;DACIÊ, 2016;COELHO, 2018).Ademais, nossos resultados demonstram que o disclosure da exposição cambial das companhias do setor de carnes e derivados ainda pode ser considerado insuficiente vis-à-vis a norma contábil aplicável (CPC 40), já que além de não seguirem um padrão que permita, ao usuário externo, a comparação da informação contábil, os demonstrativos divulgados não tornam clara a exposição cambial líquida a que as empresas estão sujeitas, com destaque positivo apenas para as Notas Explicativas às DFP da JBS S.A., que além de deter o maior nível de disclosure em 2014, foi a única companhia que apresentou sensível aprimoramento nas divulgações correspondentes a 2018.…”