A literatura atenta para uma neopentecostalização do campo religioso brasileiro a partir do sucesso que igrejas baseadas na Teologia da Prosperidade e do Domínio têm no país. A batalha contra o Mal está mais presente nas cidades, com destaque para os espaços sociais menos favorecidos como as favelas e periferias urbanas. No presente artigo, tenho como objetivo discutir os impactos do crescimento pentecostal nas favelas do Rio de Janeiro, a partir da análise do caso dos “traficantes evangélicos”. Analiso, pois, a passagem da expressão de fé dos traficantes de drogas que na década de 1980 aparecia ligada às religiões de matriz africana (umbanda e candomblé) para uma religião exclusivista, doutrinária, de salvação e cura (evangélica pentecostal ou neo-pentecostal). Durante a etnografia realizada no complexo de favelas de Acari, localizada entre bairros da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, pude observar o consumo de produtos gospel pelos traficantes, assim como a utilização de uma “gramática pentecostal” em seu dia a dia, a frequência a cultos evangélicos, a aproximação da “comunidade de irmãos” e a participação em campanhas de cura e libertação do Mal. Essa passagem na expressão de fé dos traficantes de drogas ocasionou mudanças não só no campo religioso, mas, ainda, no campo político nesta local.