“…Ainda que pareça recente o seu uso, pode-se situar a emergência do conceito, como defendem vários/as autores/as (cf. Butler, 2004;Corredor, 2019;Junqueira, 2018;Ména-Lopez & Aristizábal, 2018;Miskolci e Campana, 2017), já na década de 90, no contexto de contrarrespostas estrategicamente elaboradas pelos setores mais conservadores do Vaticano e da Igreja Católica, aos documentos elaborados e divulgados no âmbito da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento no Cairo, Egito, em 1994, e na IV Conferência Mundial sobre a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz, realizada em Pequim, no ano seguinte, ambas promovidas pelas Nações Unidas. A primeira pronunciação sobre aquilo que se convencionalizou chamar "ideologia de género", sem uma definição operacional, foi feita pelo papa João Paulo II (1975-20) e, posteriormente, pelo papa Benedito XVI (2005-2013), sem esquecer o papa Francisco (2013), que afirmam que a "ideologia de género", ao negligenciar as diferenças sexuais e a complementaridade entre sexos, destrói a base antropológica da família e, por extensão, representa uma ameaça à humanidade, Nesses documentos, de alcance global, reconhecia-se as desigualdades sistemáticas das mulheres no mundo inteiro e, como lembrança nevrálgica dessa desigualdade, proponha-se usar a categoria "género" como um substituto para "sexo", o que acabou por gerar o desagrado do Vaticano.…”