O termo "virtudes" andou arredado do léxico organizacional. Todavia, mais recentemente, uma vaga de interesse motivada por escândalos no mundo empresarial (particularmente no setor financeiro) trouxe as virtudes para o centro do palco. Neste artigo, discutimos a noção de virtude, apresentamos um quarteto de perspetivas complementares sobre a virtude enquanto processo organizacional, e discutimos formas possíveis de estimular a prática organizacional virtuosa numa perspetiva de comportamento organizacional.Palavras-chave: Organizações, Virtudes, Ética organizacional.
Introdução
"Para a virtude da discrição, ou de modo geral qualquer virtude, aparecer em seu fulgor, é necessário que faltemos à sua prática"Carlos Drummond de AndradeAs organizações modernas, com destaque para as empresas, são uma das mais admiráveis forças de progresso social. Criam soluções que tornam a vida mais confortável, respondem a necessidades humanas fundamentais, e deliciam os consumidores com produtos desejáveis. Mas essas mesmas forças de progresso podem transformar-se em máquinas de destruição. Não apenas de "destruição de valor" mas também de destruição de valores e de confiança na economia e na sociedade. Algumas empresas e respetivos líderes têm um lado negro expresso de forma particularmente saliente nos comportamentos de liderança hubrísticos (Bollaert & Petit, 2010;Tett, 2014), no abuso, quando não na exploração do trabalho humano (Crane, 2013), e numa reveladora falta de amor ao próximo, mesmo que o próximo seja o colega do lado . Em síntese: algumas empresas, no estrangeiro e em Portugal, têm oferecido deploráveis espetáculos de falta de escrúpulo ético, ou mesmo uma carência do mais elementar bom senso. O sociólogo Zygmunt Bauman resume o processo de forma lapidar, notando que a parceria entre organização e moralidade não tem sido pacífica (Bauman, 2014).Felizmente, outras empresas, como a Unilever, assumiram o explícito desafio de serem organizações virtuosas (The Economist, 2014). No mundo académico, autores como Crossan, Mazutis e Seijts (2013) têm defendido a necessidade de incorporar as virtudes nos modelos de tomada de decisão gestionária. Não surpreende, por isso, que o tema das virtudes tenha reencontrado um lugar honroso na moderna teoria de gestão (e.g., Cameron, 2011; Crossan et al.,
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