Risco de exposição à sobrecarga térmica para trabalhadores da cultura de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, BrasilRisk of exposure to heatstroke in sugarcane workers in São Paulo State, Brazil Riesgo de exposición a la sobrecarga térmica para trabajadores de plantaciones de caña de azúcar en el estado de São Paulo, Brasil A crescente mecanização da colheita em São Paulo, decorrente da Lei n o 11.241/02 4 , tem foco ambiental e não de preservação da segurança e saúde do trabalhador. Em 2012, a mecanização atingiu, aproximadamente, 73% da área plantada. Apesar disso, em 2013, cerca de 200 mil trabalhadores atuaram no corte manual da cana-de-açúcar, predominantemente nas pequenas propriedades. Também se deve considerar que há áreas não mecanizáveis devido a inclinações maiores que 12 º . Além disso, há a necessidade de a primeira colheita ser manual para não prejudicar a rebrota 5 . Portanto, a total mecanização da colheita em São Paulo parece não se apresentar como uma realidade próxima.As condições de trabalho oferecidas aos trabalhadores da cultura de cana-de-açúcar não são adequadas, e isso é percebido há muitas décadas. O trabalho infanto-juvenil nos canaviais, já identificado como um grave problema na segunda metade da década de 1990 por Gomes et al. 6 , ainda é uma realidade por volta do ano de 2010 7 . O emprego formal tem crescido em São Paulo, mas em índices muito aquém ao aumento da produção. A produtividade média diária dos cortadores de cana-de-açú-car passou de 3 toneladas, na década de 1950, para 6 toneladas, na década de 1980, e 12 toneladas, no final da década de 1990 8 . Normalmente, esses trabalhadores desenvolvem suas atividades sob péssi-mas condições de trabalho. A poluição no ar provocada pelo processo de queima da cana-de-açúcar, por exemplo, além de causar impactos ambientais 9 , também favorece a ocorrência de problemas respiratórios nos trabalhadores e na população ao redor do cultivo 10,11 . Além disso, de acordo com Bitencourt et al. 12 , esses trabalhadores, na maioria das vezes, alimentam-se mal, são transportados de forma inadequada, não têm controle do processo de reidratação durante a jornada de trabalho e descansam apenas poucos minutos após a alimentação. Os trabalhadores da cana-de-açúcar não dispõem de todos os equipamentos de proteção individual e frequentemente improvisam para evitar danos físicos. O local do cultivo geralmente não possui equipamentos de primeiros socorros, condições mínimas de higiene e instalações sanitárias.A cada jornada de trabalho, os cortadores de cana-de-açúcar realizam 3.792 golpes de facão, exercendo 3.994 flexões de coluna para produzir cerca de 11 toneladas de cana-de-açúcar 13 . Um dos aspectos mais graves nesse processo é a remuneração por produção, abordada em vários trabalhos 7,14,15,16,17,18 . A expectativa do ganho financeiro leva o trabalhador a ignorar os alertas fisiológicos, podendo ocasionar a exaustão e consequentes danos agudos e crônicos à sua saúde. Esse risco é acentuado pela competitividade estimulada entre os colegas e pela p...