“…Por mais paradoxal que tal afirmação pareça, os autores querem expressar sua preocupação sobre o quanto nós, enquanto profissionais da saúde e áreas afins, ignoramos estratégias de coping que fogem do que é estereotipado como sendo associado a bem estar, e dessa forma impactamos negativamente no desenvolvimento de resiliência desses adolescentes, ao colaborarmos com a construção de identidades saturadas de problema, ignorando ainda a possibilidade deles estarem fazendo escolhas racionais, frente a uma realidade com tão pouco acesso a recursos mais "satisfatórios" para alcançar autoestima, bem estar, satisfação, sensação de poder e controle sobre suas vidas. Estudos recentes sobre crianças e adolescentes em situação de rua (Botelho et al, 2008;Invernizzi, 2003;McAdam-Crisp, Aptekar, & Kironyo, 2005;Paludo & Koller, 2005) envolvidos em conflito armado (Betancourt, 2008;Boothby, 2006;Cortes & Buchanan, 2007;Denov & Maclure, 2007), exploração sexual (Montgomery, 2007) e outras formas de trabalho infantil (Libório & Pessoa, 2008;Liebel, 2004;Woodhead, 2004), têm apresentado resultados de suas pesquisas que vão ao encontro ao conceito de resiliên-cia oculta elaborado por Ungar. O reconhecimento dessa dimensão expressa através de comportamentos "desviantes" não significa que nós, assim como os autores acima citados, defendemos esses comportamentos como sempre sendo benéficos para toda e qualquer criança e adolescente em qualquer contexto social e cultural, e que essas formas de acesso a bem estar e relacionamentos significativos tragam somente aspectos construtivos, como se assumíssemos uma visão muito ingênua sobre o tema, ou ignorando a estrutura social e política de cada comunidade onde tais comportamentos se materializam.…”