Neste dossier temático, intitulado História, História das Mulheres, História do Género. Pretendeu-se evidenciar os contributos da história das mulheres e da história do género para a renovação da ciência histórica e problematizar as suas repercussões na história ensinada e na história transmitida em geral.
A História das mulheres e a produção históricaA História, como qualquer ciência, é uma construção social, desde o lugar epistemológico que a define, passando pelas teorias que a conformam, até aos modos de recolha e seleção dos dados empíricos que a sustentam. Como tal, situa-se e ressitua-se historicamente. Isto significa que é influenciada pelo sistema de valores e pela trama das relações sociais de poder, incluindo as relações sociais de género, estabelecidas em cada época e lugar. A investigação está, pois, como afirma Michel de Certeau, «circunscrita pelo lugar que uma conexão do possível e do impossível define» e a história conforma-se, não só «por uma relação da linguagem com o corpo (social) (…) [como] também, pela sua relação com os limites que o corpo impõe, quer sobre o modo de ser do lugar particular donde se fala, quer sobre o modo de ser do objeto diferente (passado, morto) de quem se fala» (Certeau, 1987: 31).As primeiras pesquisas sobre as mulheres antecederam a renovação universitária e devem tributo aos «movimentos feministas que, na tentativa de recuperação de uma memória colectiva, colocaram as mulheres na cena da história» (Vaquinhas, 2002: 149). O forte impacto dos movimentos de mulheres e feministas implicou a valorização das questões relativas às mulheres, por via da sua vertente reivindicativa, e suscitou um profícuo debate teórico e epistemológico no seio das ciências sociais e humanas, pela crítica aos paradigmas do universal, do progresso, da neutralidade e da natureza humana, entre outros Rago, 2012).A renovação historiográfica, operada na década de 1970 e enunciada na trilogia Fazer História (Le Goff e Nora, 1977-78) -novos problemas, novos contributos, novos objetos -, editada em França em 1974, foi favorável ao desenvolviex aequo, n.º 30, 2014, pp. 9-21