Este artigo analisa a re-visão que Margaret Atwood faz da Odisseia em A odisseia de Penélope. Para tanto, partimos de Bakhtin (1993) para mapear a subversão operada pela versão de Penélope dos traços constitutivos do épico. Ao destronar Odisseu e dar voz, em primeira pessoa, à Penélope e às doze servas enforcadas no retono de Ulisses à Ítaca, Atwood rompe com a linguagem épica sagrada, desmistifica a lenda e atualiza o passado épico absoluto, oferecendo, no lugar da narrativa grandiosa, a experiência pessoal e privada da vida das mulheres. Analisamos também algumas das implicações da reescrita do mito homérico por uma escritora canadense contemporânea. Argumentamos que, ao matar Homero enquanto Autor, Atwood tanto inscreve sua obra no cânone quanto abre espaço para o reconhecimento de outras versões da história.