Resumo: Este trabalho buscou demonstrar como o pensamento de Viktor Frankl pode contribuir para a compreensão do conceito de espiritualidade na clínica psicológica, dada a sua centralidade na obra do autor. Por meio de um estudo teórico, a investigação mostrou que, embora não haja uma definição clara do conceito de espiritualidade na psicologia, para Frankl a dimensão espiritual, na qual reside o princípio da liberdade, é característica constitutiva do próprio ser do homem. Essa dimensão possibilita ao sujeito tanto um autodistanciamento, capaz de conscientizá-lo das dinâmicas determinantes do seu destino, para fazer escolhas livres e responsáveis, quanto a autotranscendência, que o faz dirigir-se para além de si mesmo na busca de sentido. Neste aspecto, embora a dimensão espiritual não se identifique com a vida religiosa, pode abarcá-la em sua busca por um sentido último. A potencialidade desse construto suscita questionamentos acerca da alienação do tema na formação profissional.

Mesmo após décadas de pesquisas que desmistificam a narrativa de um conflito irremediável entre Ciência e Religião, tal discurso aparenta ter vida própria e segue se perpetuando. O objetivo deste trabalho foi investigar os efeitos dessa narrativa sobre a percepção de estudantes de Psicologia acerca das relações entre as duas esferas e descrever as repercussões de seu contato com a produção científica recente na área. Foram identificados sete elementos constituintes de seus relatos: reflexões e questionamentos acerca do lugar e papel da Ciência e/ou Psicologia em sua relação com a espiritualidade/religiosidade; reconhecimento de um preconceito da Ciência e/ou Psicologia para com a espiritualidade/religiosidade e alienação do tema; reconhecimento da produção científica em espiritualidade/religiosidade, sua importância e necessidade de diálogo com a Psicologia; desconstrução dos mitos sobre um conflito primordial entre Ciência e Religião; reconhecimento da presença do paradigma de conflito entre ambas; reconhecimento da presença, importância e influência da espiritualidade/religiosidade na população; e apontamentos divergentes. Esperamos que os resultados apresentados possam abrir caminhos para a construção de uma narrativa mais coerente com a realidade em que vivemos.