ResumoOs Terreiros de Candomblé são constituídos como espaço de manutenção das tradições religiosas africanas na diáspora brasileira, mas igualmente como espaços multifuncionais para além destas, buscando fazer parte da pauta de ações sociais que visam, autonomamente ou com parcerias governamentais e internacionais, a propor o desenvolvimento de um modelo de atenção à saúde, estruturado em valores e normas e que, conjuntamente, possam dialogar de forma racional com o sistema biomédico no país, estabelecendo um cenário de oportunidades de ofertas de saúde baseados em modelos culturais diferenciados. Associa-se este modelo à compreensão destas práticas e saberes concebidos e executados pelo Candomblé como um sistema terapêutico que pode ter uma função colaborativa com os sistemas locais de saúde e suas especificidades, visto especialmente pelo uso significativo, em seu interior, de vegetais com fins terapêuticos. Diante disto, é atentar para estas práticas religiosas terapêuticas como um mecanismo que tece canais de comunicações com espaços sociais, especialmente, Mercado Público, local por excelência de consumo sacro afrobrasileiro e um assunto de políticas públicas coadunadas na agenda de políticas e programas de medicinas naturais e complementares e/ou plantas medicinais e fitoterápicos Palavras-chave: Candomblé; Mercado Público; fitoterapia; processo saúde-doença O Candomblé pode ser definido, de acordo com Bastide (2001), Costa e Silva (1992), Dos Santos (1988) e Verger (1981) como uma manifestação religiosa resultante da reelaboração das várias visões de mundo provenientes das múltiplas etnias africanas que, a partir do século XVI, foram trazidas para o Brasil. Será somente no século XVIII que esta designação vai ser encontrada aplicada aos grupos organizados e espacialmente localizados. Verger (1981), porém, indica as primeiras menções às religiões africanas no Brasil como existentes nas anotações feitas pela Inquisição em 1760.Segundo Dos Santos (1988), guardando as devidas reservas, uma vez que a impossibilidade de uma comprovação mais rigorosa esbarra na escassez de material oficial, é provável que o primeiro contingente de escravos vindo da região de Ketu tenha chegado ao Brasil por volta de 1789. Este grande grupo, proveniente de uma vasta região, será conhecido no Brasil pelo nome genérico de nagô, portadores de uma tradição, cuja riqueza deriva das culturas individuais dos diferentes reinos de onde se originaram.Pierre Verger (1987Verger ( , 1980) afirma, sobre a preeminência dos ritos nagôs nos Candomblés de Salvador, que [...] as razões desta predominância espiritual podem ser explicadas pelas guerras entre Daomé e Yorubá, e o conseqüente enfraquecimento deste último no princípio do século XIX. A cidade de Ketu, mais exposta a incursão do Daomé, tocada e assolada por guerras seguidas, viu seus habitantes vendidos aos negreiros da Costa. Numerosos sacerdotes de orixás foram, assim, levados dessa região para a Bahia, ainda no fim do tráfico de escravos. Elementos das diversas nações iroubanas e daome...
Candomblé terreiros (plots of land) are intended as spaces to preserve African religious traditions within the Brazilian diaspora. In addition, they serve as multifunctional spaces for the purpose of integrating, autonomously or by means of governmental or international partnerships, the agenda of social actions aimed at developing a model of health care structured on values and norms. The aim is to rationally engage the conventional medical system, thus setting the stage for health care possibilities based on different cultural models. This model is associated with an understanding of the knowledge and practices developed and performed by Candomblé as a therapeutic system that might enable collaboration with local health systems and their specificities based on the system's significant use of plants for therapeutic purposes. Therefore, these religious therapeutic practices are addressed as a mechanism for opening communication channels with social spaces, particularly the public market, which is the preferred locus for Afro-Brazilian sacred consumption and presents an issue related to public policies and programs for natural and complementary medicines and/or medicinal plants and phytotherapic agents.
O presente artigo teve como objetivo principal apreender os usos de recursos terapêuticos por parte de clientes, adeptos ou não, que frequentam o Candomblé, entendido como uma religião de matriz africana no Brasil. Ao adentrar este sistema religioso terapêutico, os sujeitos vão experimentar e confrontar com uma série de inovações na sua vida cotidiana, ampliando suas visões e percepções sobre as causalidades da doença, repercutindo na consideração da relação entre “corpo/mente/orixá (divindade)”, abrindo desta maneira uma nova opção no que tange as opções terapêuticas para estes. Diante da complexidade desta religião, o grupo em questão – adeptos e clientes externos – reafirma sua solidariedade intra- e extra-muros, através da garantia da saúde física e social de seus membros, na medida que opõe instâncias antagônicas representadas por sua visão de mundo: saúde/doença, vida/morte. O equilíbrio entre estas se faz necessário para a afirmação daquilo que se torna elemento indispensável para este: a manutenção da saúde.
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