De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho daquele que conhece? Existem momentos na vida nos quais a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir. (Foucault, 2003a, p.13) Este artigo foi pensado não como afirmação de uma idéia ou formulação de respostas a uma problemática, a um problema. Interessa-nos mais provocar deslocamentos. Pensamos, desde a nossa escrita e por meio dela, nos lançarmos na aventura de produzir formas compartilhadas de andares outros e de andar com outros. Nessas andanças, o objetivo é fazer novas conexões, compondo, como diria Cervantes (apud Vasconcelos, 2008), não uma paisagem de ilha, mas de encruzilhadas, ousando, inclusive, o descaminho. Escrevemos "para fortalecer linhas de fuga nesses tempos em que a perturbação, essa potência de afetação que toda alteridade traz em seu seio se abranda ao ser inadvertidamente incluída, identificada, apaziguada" (Vasconcelos, 2008, p.188). Neste artigo, escrevemos para que análises sejam feitas, para que analisadores aconteçam, 'revelando' modos de funcionamento instituídos no campo da saúde coletiva, provocando-os, desestabilizando-os. Inspirando-nos no movimento institucionalista (Lourau, 1995), entendemos o conceito-ferramenta "analisadores" como situações espontâneas 3 ou produzidas que colocam algo (uma instituição, um dispositivo, uma encomenda) em análise. É o que, ao emergir em determinada situação-artificial ou espontânea-, possibilita uma quebra dos modos habituais, desestabilizando formas, muitas vezes, percebidas como naturais e até necessárias (Benevides, 2002; Coimbra, 2001). Apostamos, então, numa escrita que se faz para interferir, para perturbar o caráter de evidência dos saberes, fazeres, dos poderes e das sensibilidades que compõem esse cenário. Nele, por meio dele, atentas aos seus movimentos, vamos fiando um percurso, pensando a tessitura de redes de produção de saúde e na possibilidade de estas serem alinhavadas pelo apoio institucional.
ResumoO presente artigo trata da temática "processos de trabalho no campo da saúde pública", tendo a Política Nacional de Humanização (PNH) e, mais especificamente, um curso de formação de apoiadores institucionais como referências. Por meio dessa atividade formativa e desde uma perspectiva cartográfica, foi composto um campo de pesquisa acompanhando/produzindo reflexões referentes ao modo como os processos de trabalho têm se realizado na saúde pública. Objetiva, assim, problematizar como a PNH tem comparecido nesse cenário, que questões têm sido levantadas, com quais impasses os trabalhadores se deparam em seu cotidiano do fazer-saúde, quais estratégias de enfrentamento têm sido disparadas. Parte do princípio de que os modos como os processos de trabalho são concebidos e realizados repercutem na produção de mudanças nas práticas de saúde e na efetivação do Sistema Único de Saúde (SUS) como política pública. Além do acompanhamento dos momentos presenciais do curso, foram realizadas entrevistas. Utilizou-se um roteiro de perguntas iniciais para disparar conversas com os trabalhadores formandos do curso e com formadores, estes últimos denominados "apoiadores pedagógicos". Como resultados, obteve-se a problematização coletiva acerca do trabalho no contemporâneo e de importantes elementos que se presentificam no campo pesquisado, contribuindo assim para mudanças no cotidiano do fazer-saúde em que os trabalhadores estão inseridos, bem como ampliação dessa discussão no campo da saúde pública.
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