Resumo: O objeto de estudo do presente artigo é a expressão daí que. Na dimensão diacrônica, verificam-se instanciações possivelmente participantes da gênese do daí que como conector, em estruturas que Diewald (2006) denomina contextos atípicos ("de aí se infere que") e críticos ("Não se infira daí que"). Sincronicamente, após passar por várias mudanças construcionais, daí que consolida-se como conector lógico-argumentativo, verificando-se perda de fronteira e de composicionalidade de seus componentes: "A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquele" (Paulo Freire 2. Esse último estágio é o que Diewald (2006) denomina contexto de isolamento. Com base nos pressupostos teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), numa perspectiva dialógica entre Gramática de Construções, Gramaticalização de Construções e a perspectiva construcional de Traugott (2012) e Traugott e Trousdale (2013), entendem-se construções como o pareamento formasentido de duas ou mais palavras (CROFT, 2001). Assumimos as relações metonímicas, as pressões de informatividade, inferências sugeridas, subjetificações e (inter) subjetificações como elementos cruciais para o processo de construcionalização gramatical do conector lógico-argumentativo daí que. Compõem o corpus textos escritos a partir do século XVII até a sincronia contemporânea (séculos XX e XXI) da língua portuguesa. Palavras-chave: Daí que. Gramaticalização de construções. Gramática de construções. Mudança construcional. Construcionalização. Introdução No presente artigo, o foco de investigação é o conector daí que, de uso bastante recente na língua, do qual só se tem registro em textos escritos a partir da segunda metade do século XX. Na expressão de resultado, trata-se de elemento coesivo que estabelece relações de causalidade, sejam elas relações lógicas, no âmbito da causa-consequência, sejam elas relações discursivo-argumentativas, no âmbito da dedução, inferência. Encontram-se, também, usos intermediários que indicam um contínuo de possibilidades dentro do espectro
Neste artigo, voltamo-nos para a análise da mudança linguística de daí que no português, tomando-o como um novo signo linguístico, ou seja, como um pareamento específico de sentido e forma, uma microconstrução. Integrada simbolicamente em suas subpartes, essa microconstrução passa a constituir um novo elemento da classe dos conectores da gramática do português. O estudo desse conector integra uma pesquisa maior, em andamento, que investiga a rede construcional ResultadoConect, analisando diferentes formas de conexão, nos níveis intra, inter e supraoracional por meio de distintos conectores que articulam a expressão de resultado no português. Utilizamos os pressupostos teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso, incorporando o levantamento das frequências type e token (BYBEE, 2003) como auxiliares no reconhecimento da produtividade do daí que e dos padrões de uso determinantes na sua fixação como conector lógico-argumentativo na expressão de resultado. Compõem o corpus textos escritos dos períodos arcaico, moderno e contemporâneo da língua portuguesa.
Com base na Linguística funcional centrada no uso, nos termos de Traugott e Trousdale (2013) e Bybee (2010; 2015), entre outros, este artigo se volta para o eixo funcional do pareamento função-forma, tal como postulado na abordagem construcional da gramática, com base em Goldberg (1995; 2006) e Croft (2001). Além de discutir acerca dos termos função, significado e sentido no contexto desse viés teórico, propomos que esses termos sejam refinados, a fim de contemplarem a seguinte hierarquia disposta em gradiente: esquema > subesquema > microconstrução > constructo. Assumimos que: a) o termo função deve ser utilizado na referência ao nível do esquema, o mais alto da hierarquia construcional; b) o termo significado seja usado para o nível do subesquema e da microconstrução; c) o termo sentido, por sua maior especificidade contextual, deve ser usado no plano do uso linguístico efetivo, do token. Para ilustrar tal proposição, que vincula o refinamento terminológico do eixo funcional da construção à hierarquização já referida, utilizamos os dados de Arena (2015), em sua pesquisa acerca da construcionalização gramatical que derivou na construção conectora lógica [daí que]cla em português.
O presente trabalho tem como objetivo aprofundar a discussão sobre o então como nexo conclusivo, associando-o às sequências tipológicas. Verificar-se-á se, conforme o contexto linguístico, o juntor expressa uma consequência factual, em que representa linguisticamente eventos da realidade externa (dictum), ou uma conclusão do falante, assumindo valor textual argumentativo (modus). Para tal, lança-se mão dos estudos funcionalistas, segundo os quais itens lexicais passam por um processo de gramaticalização, isto é, em determinados contextos linguísticos, servem a funções gramaticais, e, uma vez gramaticalizados, continuam a desenvolver novas funções gramaticais.
Este artigo trata das funções textual-discursivas de circunstanciadores temporais de dois tipos: o então e as locuções adverbiais, avaliando também o impacto dessas funções na articulação de orações. A partir de dados coletados em jornais contemporâneos, buscamos relacionar os usos dos circunstanciais a alguns princípios do Funcionalismo norte-americano, como Iconicidade e Marcação, além de nos ancorarmos em alguns princípios da Gramaticalização. Metodologicamente, os circunstanciadores em estudo foram analisados em seus contextos de uso, em perspectiva sincrônica e tratamento prioritariamente qualitativo. Foram identificadas algumas convergências e divergências entre os padrões de uso do então e das locuções adverbiais, como o tipo de função predominante no uso de cada objeto analisado. As divergências possivelmente se devem ao fato de o então não ter, em sua forma, elementos substantivos, como as locuções têm, o que não lhe permite algumas funções discursivas quando é usado como advérbio, como, por exemplo, introduzir tópico. As convergências são mais relevantes, visto que as funções de retomar marco temporal, sequenciar eventos e introduzir tópicos são compartilhadas tanto pelas locuções adverbiais quanto pelo então. Por fim, as análises demonstram também que tanto as locuções adverbiais quanto o então se apresentam como importantes estratégias textual-discursivas para a continuidade e a progressão do texto.
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