RESUMO: Nota-se nas últimas décadas um interesse renovado pelas possíveis conexões entre a história e a literatura. Contudo, os rendimentos dessa ligação continuam sendo em grande medida um desafio. Do ponto de vista de uma história urbana, a incorporação de gêneros literários e discursos não especializados ao acervo de fontes tradicionais, além de ampliar o catálogo documental mobilizado, também tem contribuído para a consolidação de um subcampo, a história cultural urbana, cuja perspectiva analítica modifica os modos de compreensão do artefato urbano. Este artigo propõe uma reflexão sobre as potencialidades do uso da literatura como fonte para a história urbana, e a faz a partir de três entradas. Inicialmente, apresenta um comentário sobre duas obras hoje clássicas que tangenciam o tema. Em seguida, busca recuperar algumas referências dentro do campo da história da cidade no Brasil. Por último, reflete sobre três incursões da autora na temática em questão, com o intuito de apresentar algumas conclusões parciais que apontem um caminho de trabalho.
Cidade e arquitetura são objetos de pesquisa que apresentam uma multiplicidade de abordagens e de interpretações. Se ambas podem ser vistas a partir de suas características materiais, parece igualmente importante, ao se buscar construir as suas narrativas históricas, recuperar aquilo que Goethe lembrava como "uma parte essencialmente essencial: a vida". Pode-se afirmar sem constrangimentos que esse tem sido um dos caminhos de pesquisa mais profícuos nos últimos tempos, incorporando-se às interpretações, além das dimensões técnicas e disciplinares, a dimensão humana da cidade e da arquitetura.Ao recuperarmos o caminho que os estudos no campo seguiram no Brasil com a consolidação dos programas de pós-graduação em arquitetura e urbanismo, entre os anos de 1980 e 1990, juntamente a um conjunto significativo Anais do Museu Paulista. São Paulo.
Cet article se propose de réfléchir sur la maison et sur la ville dans les années 1950 et 1960 au Brésil, en s’appuyant sur deux livres de Carolina Maria de Jesus (Quarto de despejo: diário de uma favelada [Le Dépotoir : le journal intime de Carolina Maria de Jesus] publié en 1960 et Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada [Ma vraie maison] publié en 1961) et sur un livre de Clarice Lispector (A paixão segundo G.H. [La Passion selon G.H.]) publié en 1964. Loin de se réduire à des « documents », ces ouvrages donnent à voir la maison et la ville à travers le regard de deux femmes. Ils mettent ainsi en évidence les oppositions de classe, de genre et de race, et montrent la constitution d’espaces sociaux et symboliques, comme il en existe encore au Brésil.
Re sumo O artigo aponta como a questão do estilo mais adequado para São Paulo estava inserida no debate autorizado de engenheiros e arquitetos, ao mesmo tempo em que animava a discussão entre intelectuais e o público leigo. A partir dos textos do jornalista e escritor modernista Menotti del Picchia (1892-1988) e do arquiteto russo Gregori Warchavchik (1896-1972), publicados sobretudo no jornal Correio Paulistano, bem como os do escritor e editor Monteiro Lobato (1884-1948) e do engenheiro português Ricardo Severo (1869-1940), veiculados n'O Estado de S. Paulo, e ainda das crônicas do crítico e poeta Mário de Andrade (1893-1945), divulgadas no Diário Nacional, percebe-se que o tema da fisionomia daquela cidade em plena marcha de progresso alimenta a construção do discurso acerca da nacionalidade e da modernidade artística, nas primeiras décadas do século 20. Tal debate ocorre em um campo de investigação e experimentação artísticas intensas, que se dá no embate entre a idealização universalista, a defesa radical da modernidade artística, o tradicionalismo conservador e o patriotismo tacanho.
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