O encontro de um antropólogo com um povo é sempre fruto de um acaso e de uma busca. Hoje, revejo-me debruçado sobre um mapa da Amazônia, tendo ao meu lado uma lista de nomes de grupos indígenas, à procura de um lugar e de um povo para pesquisar. Mas foi na mesa de um bar, em um dia qualquer de 1987, que ouvi falar pela primeira vez dos Parakanã, em particular de um de seus subgrupos, então recém-contatado. Essa palavra soou como música em meus ouvidos, pois eu buscava um canto isolado, uma ilha, onde imaginava encontrar índios "autênticos" e ter uma experiência integral. Parti assim que pude.Inimigos fiéis é uma etnografia densa de um encontro intenso. Com ritmo, pausas, silêncios, métrica, intensidade e duração particulares. É, também, uma excelente contribuição teórica à antropologia das sociedades indígenas das terras baixas da América do Sul, fertilizando com novos conceitos e perspectivas temas clássicos como guerra e xamanismo. Em uma profusão de imagens Carlos Fausto tece o enredo, fruto de dez anos de pesquisa junto aos Parakanã, um pequeno povo Tupi-Guarani que habita o interflúvio Pacajás-Tocantins.As imagens inspiradas por Inimigos fiéis, contudo, não se restringem ao campo etnográfico: são 50 fotografias em preto-e-branco, com diversos planos e enquadramentos; sete mapas, onze tabelas, treze quadros, cinco diagramas, um plano, sete esquemas, quatro gráficos e dois desenhos. Esse rico material iconográfico não apenas ilustra, mas diversifica as claves de apreensão dos dados apresentados.A viagem do antropólogo, de Altamira, Pará, até o igarapé Bom Jardim, levava de três a quatro dias de barco. Era a travessia de acesso às terras firmes do território -ou silvitório, como prefere o autor -dos Parakanã, guerreiros, sonhadores e exímios caçadores de mamíferos terrestres. Na ore-ka'a, na "nossa mata", os Parakanã praticavam a horticultura de coivara, pouco diversificada e centrada no manejo da mandioca amarga, cujo ciclo, ao lado da guerra, contribuía para imprimir uma estética e uma rítmica
This study deals with the mythical dimension of the Kaingang oral narratives, a Jê Meridionalsociety whose traditional territories are located in the south of Brazil. It is based on interviews carried outamong Kaingang communities located in the hydrographic region of the Guaíba Lake basin, Rio Grandedo Sul state, analyzed in view of the native etnology and of the myth theory. It was considered speciallythe studies of Egon Schaden (1913) and Mircea Eliade (1963), completed by the studies of RobertCrèpeau (1997), Rogério Reus Gonçalves da Rosa (1998) and Sérgio Baptista da Silva (2002). Thepreliminary data allow to recognize that the Kamé-Kairukré cosmologic dualism, revealed in the versionof the myth of the Kaingang origin collected by Telêmaco Borba (1908), remains as a wire coductor ofthe contemporary Kaingang thought, orienting its narratives, its history and nature conceptions, its life insociety and its duty notion.
RESUMOEste artigo focaliza um conjunto de objetos de grande significado para a compreensão do Uri/presente e do Waxi/passado Kaingang, cujas vias interpretativas são tecidas em diálogo com interlocutores indígenas. Tais objetos acessam novas chaves para os estudos que abordam a arte, o contato interétnico e a etnohistória dos processos coloniais vivenciados no sul do Brasil. Fabricados pelos Kaingang novecentistas, estes objetos lançam luz para uma mais sofisticada interpretação das manifestações estéticas que integram a cultura material kaingang nas cidades contemporâneas.Palavras-chave: Cultura material Kaingang. Tropeirismo. Perspectivismo ameríndio. Arte e cidade.
RESUMO: O artigo tem por objetivo analisar o processo de institucionalização de vagas para indígenas no ensino superior brasileiro, o reconhecimento desta política afirmativa pela Corte Constitucional e sua tramitação legislativa no Congresso Nacional. Paralelamente, analisa-se a perspectiva hesitante do Ministério da Educação frente a esta realidade, calcada fortemente em programas de fomento às licenciaturas indígenas e em descompasso com as ações de assistência estudantil ainda vigentes na Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Metodologicamente, esses temas ganham concretude no estudo de caso referente à institucionalização do Plano de Inclusão Racial e Social na Universidade Federal do Paraná, a partir de 2005, envolvendo a criação de vagas suplementares exclusivas para estudantes indígenas em nível de graduação. Aborda-se os possíveis impasses que se configuram nesse processo à luz do novo ordenamento jurídico da Lei de Cotas, de 2012. Trabalha-se com a hipótese de que, no caso brasileiro, a razão de Estado está fortemente marcada por uma perspectiva liberal de modernidade em que os valores progresso e desenvolvimento econômico se sobrepõem ao
No presente artigo busca-se contribuir para as reflexões dedicadas ao processo de exame e debate sobre a primeira década de vigência da Lei Federal n. 12.711/2012, a denominada Lei de Cotas. Focaliza-se a trajetória das políticas afirmativas de ingresso e permanência de jovens indígenas estabelecidas no decurso da democratização do ensino superior brasileiro, seus impasses administrativos e suas potencialidades. Compreende-se que tais políticas inauguram um novo campo de produção de saberes e conhecimentos, cujos contornos epistemológicos se definem e aperfeiçoam na possibilidade efetiva de avanço nos mecanismos políticos e pedagógicos promotores de interculturalidade. Considera-se o desafio de estabelecer um horizonte sistêmico capaz de promover uma articulação entre a educação escolar indígena e a educação superior, expressa em deliberações societárias dos povos indígenas. Por fim, num contexto de crise ambiental, econômica e política, com reflexos na erosão dos direitos sociais, teme-se pelo esvaziamento precoce das ações afirmativas preconizadas na Lei de Cotas, comprometendo não apenas o seguimento da formação da juventude indígena brasileira, mas a agenda democrática do bem comum.
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