Como descrever as relações entre foto e poesia em casos de intermidialidade observados em fotolivros de literatura? No fotolivro de literatura, o signo verbal parece estar vinculado à imagem fotográfica em uma interação bidirecional, criando um sistema acoplado que pode ser visto como um novo sistema. Influências mutuamente modulatórias e contínuas vinculam texto e fotografia. Mas é preciso definir a natureza de tais influências. De que tipo de interação estamos tratando? Neste artigo, propomos um modelo para descrever a relação "foto-poesia" derivado da teoria do signo de C. S. Peirce e apresentamos alguns resultados preliminares de análise do Quarenta Clics em Curitiba ([1976] 1990), um fotolivro de Paulo Leminski e Jack Pires. Em termos sumários, caracterizamos a relação foto-poesia no fotolivro de Leminski e Pires no interior da teoria de Peirce. A relação é decomposta entre os papéis funcionais ocupados pelo signo (poema) e pelo objeto (fotografia). A irredutibilidade triádica que caracteriza a semiose, segundo Peirce, é a principal propriedade aplicada à relação foto-poesia no fotolivro Quarenta Clics em Curitiba.
Que papel o fenômeno da tradução criativa, tradução icônica, ou transcriação, pode ter entre diversas formas de crítica? Vamos examinar esta questão no escopo da divisão sugerida por Umberto Eco, e sua relação com a tese de Haroldo de Campos de "tradução como crítica" – "se a tradução é uma forma privilegiada de leitura crítica, será através dela que se poderão conduzir outros poetas, amadores e estudantes de literatura à penetração no âmago do texto artístico, nos seus mecanismos e engrenagens mais íntimos". Exploramos essa tese através da noção operacional do ícone, e de ícone diagramático, desenvolvida por C. S. Peirce, e do exame da transcriação do poema "The Expiration", de John Donne, por Augusto de Campos. Em nossa abordagem, a transcriação é um ícone de relações. Ela revela, através de uma operação tipicamente diagramática, um sistema multinível de restrições. Nossa abordagem sugere uma perspectiva epistêmica para o ícone, desconsiderada por Haroldo, capaz de re-situar sua tese em um cenário teórico ainda inexplorado.
Resumo: O poeta curitibano Paulo Leminski, em colaboração com o fotógrafo Jack Pires, publicam, em 1976, Quarenta Clics em Curitiba. O volume reúne quarenta páginas soltas, sem numeração, que os autores chamam de “pranchas”. Quarenta fotografias, de Pires, e quarenta poemas, de Leminski, são integrados no mesmo espaço de leitura que compõe o livro-objeto ou livro-caixa. A arquitetura do livro, sua estrutura solta e sem numeração, impede qualquer sequencialização orientada de leitura, e cria o que pode ser interpretado como a memória de um deslocamento des-hierarquizado por ruas sem endereço, numa cidade paratática. Impedido de criar focos de atenção, sequências ou estruturas narrativas, o fotolivro “recria” o ato de passear pela cidade, ou o que pode ser interpretado como um deslocamento por instantes ou ocorrências independentes da cidade. Quarenta Clics é o mais notável experimento do envolvimento do poeta com sua cidade, a presença do registro imediato do cotidiano curitibano. Exploro, neste artigo, o experimento intermidiático que é Quarenta Clics em Curitiba, com atenção a densa relação poeta-cidade.Palavras-chave: Quarenta Clics em Curitiba; Paulo Leminski; Literatura; Cidade; Palavra-imagem.Abstract: The poet Paulo Leminski, in collaboration with photographer Jack Pires, published, in 1976, Quarenta Clics em Curitiba. The volume put together forty loose pages, without numbering, which the authors call “boards”. Forty photographs, by Pires, and forty poems, by Leminski, are integrated in the same reading space that makes up the object book or box-book. The architecture of the book, its loose and unnumbered structure, prevents any oriented sequencing of reading, and creates what can be interpreted as the memory of a non-hierarchical displacement through streets without an address, in a paratactic city. Prevented from creating focuses of attention, sequences or narrative structures, the photobook “recreates” the act of walking around the city, or what can be interpreted as a displacement for moments or independent occurrences of the city. Quarenta Clics is the most notable experiment of the poet’s involvement with his city, the presence of the immediate record of Curitiba’s daily life. In this article, I explore the intermedia experiment that is Quarenta Clics, with attention to the dense poet-city relationship.Keywords: Quarenta Clics em Curitiba; Paulo Leminski; Literature; City; word-image.
Ao meu orientador Karl Erik Schollhammer, pela liberdade da escrita, pela defesa de minhas ideias e meus projetos. Ao meu co-orientador João Queiroz, colaborador e mentor. Leitor voraz, revisor incansável, crítico severo. À Silvana Campoy, pela leitura atenta e interlocuções generosas. À Aníbal Bragança, Noilton Nunes, Evandro Teixeira, Marcos Ribeiro, Felipe Rissato, e Joaquim Marçal, a quem devo a formulação inicial de algumas das ideias desenvolvidas neste trabalho. Ao Pedro Atã, pesquisador e amigo, a quem devo muitas, e valiosas, contribuições. Ao Iconicity Research Group [IRG], onde aprendi a fazer pesquisa pra valer. Ao Lucas, Mara e Hermann, irmão, mãe e pai, meus melhores amigos. Às minhas avós tão queridas, Jeannine e Alaíde. À Laura, Juliana e Rebeca. Aos colegas da PUC. Aos secretários Rodrigo, Wellington e Chiquinha, por toda ajuda e atenção. Ao CNPq e à PUC-Rio, pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não poderia ter sido realizado.O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES) -Código de Financiamento 001.
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