FAUSTO CASTILHO: Uma vida filosófica
E&F: Como o senhor descreveria o Brasil da sua infância?Fausto Castilho: Eu não tenho nenhuma capacidade de descrever o Brasil da minha infância. Eu nasci em Cambará, frente pioneira pura, em um momento em que os paulistas começam a penetrar o norte do Paraná. O meu pessoal esteve no desbravamento daquela região, tanto assim que eu estive em várias fazendas naquela região. Numa delas, eu me lembro, havia uma tribo de índios. O grande problema para Cambará era se entender com a tribo. Esse é o Brasil de que eu poderia falar longamente, da frente pioneira do café paulista, que, segundo os geógrafos contratados pelo Júlio Mesquita, amigos do Caio Prado, dão início à nova fase do Brasil. A minha tese, levando essa sugestão dos geógrafos franceses, é que ali no norte do Paraná, depois Mato Grosso do Sul, começa a segunda fase da história do Brasil. Não estou exagerando. Por quê? O que caracteriza o Brasil contemporâneo é o abandono do eixo norte-sul pelo eixo leste-oeste, e isso se inicia, segundo os geógrafos franceses, com a frente do café. E eles têm de ser lidos por causa disso, porque eles interpretam o nosso desenvolvimento do ponto de vista, a meu ver, o mais correto possível, ou seja, a partir dessa inversão dos eixos. Sobre o eixo norte-sul se escreveu toda a história do Brasil até recentemente; agora a história tem de ser feita pelo curso de ocupação territorial, do território que nunca foi nosso, e que só agora começa a ser transferido, por causa dessa inversão dos eixos. Nenhuma grande nação escreveu a sua história a não ser se apoiando na ocupação territorial. A história dos Estados Unidos da América é principalmente a história da ocupação do território norte-americano e dos vizinhos, diga-se de passagem, não é verdade? A começar pelos franceses que ocupavam a maior parte atual do território norte-americano. Nessa ocupação se incluem os mexicanos e toda a circunvizinhança. O Brasil assiste a esse momento, por causa da inversão dos eixos. Trata-se de um fenômeno demográfico da maior importância. É o que Império e a Primeira República situaram os imigrantes europeus no sul e lá eles hibernaram durante mais de um século. De repente eles resolveram ocupar o Brasil central e assim por