RESUMO -UmEntre o Outro e Eu: do estranho e da alteridade na educação. Discorre sobre o conceito do estranho na arte, na antropologia e na psicanálise, a fim de analisar as injunções poético político pedagógicas do estranho no âmbito da educação. Toma como problemática a relação entre o eu e o outro na sociedade contemporânea, mais especificamente, na manifestação do estranho -o qual refere tanto um sentimento quanto uma representação -nos espaços formativos -supostamente familiares ou de familiarização. Trata, portanto, da alteridade, tomada como forma de visibilidade e relação do mesmo com o outro. O estudo propõe pensar o ensino como forma de estranhamento. Palavras-chave: Estranho. Psicanálise. Alteridade. Educação. ABSTRACT -A Gap Between the Other and Me: of the uncanny and alterity in education.Discusses the concept of the uncanny in the arts, anthropology and psychoanalysys in order to analyze the poetical and political injunctions of the uncanny in education. It considers the problem of the relationship between self and the other in contemporary society, more specifically, in the manifestation of the uncanny -wich may refer both to a feeling and to a form of representation -in educational spaces -supposedly familiar or for familiarization. The theme, therefore, is alterity, taken as a form of visibility and relationship with the other. The study proposes to consider teaching as an expression of the uncanny.
O artigo propõe discutir um fenômeno que na última década tem ganhado vulto na cena escolar: a medicalização do sintoma de aprendizagem como forma de desenlace para o sofrimento que este engendra – tanto para estudante quanto para professores e famílias. Como estratégia metodológica, este escrito parte de uma retomada da tragédia clássica para, dela, destacar elementos que possibilitam compor diferentes cenários que indicam desdobramentos possíveis para o encontro com a dimensão insolúvel da (ex)sistência. O escrito tem como objetivo refletir sobre as consequências deste encontro para a relação estabelecida entre os atores escolares envolvidos com a práxis educativa. Retomando a figura trágica do deus ex machina, o trabalho indica que a medicalização, o mais das vezes, ingressa na cena escolar como elemento externo que suspende as condições necessárias a uma consideração do impossível próprio ao educar e daquilo que disso deriva: a abertura para uma invenção que mobilize os elementos internos à cena na construção de uma saída do mal-estar. Quando o desenlace de um impasse é pensado a partir da perspectiva do insolúvel que a linguagem inscreve na vida comum, as saídas para os conflitos escolares acabam por ser inventadas no jogo de relações entre os sujeitos da educação.
No presente artigo, pretendemos evidenciar como o romance Um amor incômodo, de Elena Ferrante, é atravessado por um abuso sexual que resvala na relação entre uma filha e sua mãe. Na medida em que se articula à violência de gênero, esse acontecimento apresenta-se como um ponto cego da cultura, configurando-se como traumático. Ao final do livro, após reconstituir a história de sua mãe, é possível para a narradora, Delia, lembrar do abuso que sofreu quando criança e significar pontos de sua trajetória que se apresentam como um mal-estar. O incômodo do título, que diz respeito à relação mãe e filha, atravessa a trama ressoando o incômodo da violência que é desvelada no final do romance. Como aporte teórico, tomamos as considerações da crítica literária Shoshana Felman acerca de literatura, testemunho e traumas culturais. Com o intuito de relacionar o trauma com a violência de gênero, retomamos a perspectiva de Sigmund Freud sobre o tema, assim como a discussões mais atuais, através de Cathy Caruth e Gayle Rubin. Assim, propomos que o romance de Elena Ferrante permite um esgarçamento das possibilidades narrativas do trauma do abuso sexual e da violência de gênero, enquanto pontos cegos da cultura.
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