Introdução: O lacrimejo anormal com a mastigação é uma queixa incomum, que pode surgir após uma paralisia do nervo facial de qualquer etiologia. O mecanismo por trás deste sintoma não está claramente estabelecido e não existe consenso quanto à melhor opção terapêutica. Este caso realça o papel do médico de família na educação e tranquilização do doente, fundamentais para a aceitação e controlo do impacto emocional associado. Descrição do caso: Homem, 56 anos. Recorreu ao médico de família em fevereiro de 2020 por chorar quando comia. Afetava apenas o olho esquerdo e teria começado cerca de um ano antes, enquanto realizava reabilitação de paralisia facial periférica secundária a cirurgia por neurinoma do acústico. Simultaneamente apresentava congestão nasal profusa da narina esquerda. A hemiface esquerda apresentava tónus muscular superior à direita. Os sintomas iniciaram-se concomitantemente à recuperação da função motora. Na consulta de seguimento de neurocirurgia, o paciente mencionou o lacrimejo anormal e foi-lhe dito que era uma sequela sem necessidade de investigação adicional. O paciente queria saber mais sobre o seu sintoma e possíveis soluções, tendo consultado o seu médico de família. Após revisão da literatura, a hipótese diagnóstica foi encontrada e explicada ao utente e as opções terapêuticas foram abordadas. O paciente considerou desnecessário submeter-se a um procedimento invasivo com resultados incertos, tendo optado por ajustes no seu dia-a-dia. O esclarecimento do diagnóstico foi suficiente para reduzir significativamente a sua preocupação. Comentário: Apesar de o lacrimejo com ingestão de alimentos não ser tão impactante como a paralisia facial, enquanto sequelas da cirurgia a neurinoma do acústico, associa-se a grande impacto emocional, com frequente evitamento de refeições sociais. Deve fornecer-se informação completa, pois poderá ser suficiente para proporcionar alívio ou, caso o paciente pretenda tratamento, permitir a sua orientação adequada.
INTRODUÇÃO: Durante a pandemia COVID-19, os quadros de burnout parecem ter-se agravado nos médicos. Como tal, pretendeu-se determinar a prevalência de burnout, reflexo da pandemia COVID-19, nos médicos de família de um Agrupamento de Centros de Saúde.MATERIAL E MÉTODOS: Estudo analítico descritivo transversal, com questionário anónimo de autorresposta, durante abril e maio de 2021. Aplicação do Maslach Burnout Inventory-Health Services Survey.RESULTADOS: Obtiveram-se 60 respostas válidas. Amostra predominantemente feminina (82%), entre os 36 e 45 anos (53%). Trabalhavam numa Unidade de Saúde Familiar 78%, e 22% numa Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados. Afirmaram ter pensado mudar de profissão, instituição ou serviço no último mês, 52%. Apresentaram elevada exaustão emocional 70%, 40% elevada despersonalização e 45% baixa realização pessoal. Apresentaram burnout 32%. A exaustão emocional foi maior para carga horária semanal >40 horas (p=0,011). Baixa realização pessoal (p=0,004) e burnout (p=0,034) revelaram-se mais prevalentes nas faixas etárias mais baixas. Não se observaram relações estatisticamente significativas entre burnout e sexo ou local de trabalho.DISCUSSÃO: A prevalência estimada de burnout nos médicos de família é duas vezes superior à de 2016 na zona norte e oito vezes superior à nacional de 2012. Dada a relação temporal, é provável existir uma relação deste aumento de prevalência com a pandemia COVID-19. A maior prevalência de burnout nos mais jovens poderá evidenciar estratégias de coping com o stress ocupacional menos efetivas.CONCLUSÃO: A prevenção do burnout nos médicos de família deve ser uma prioridade, dada a sua elevada prevalência e impacto na saúde mental, bem como forma de prevenção quinquenária em saúde.
INTRODUÇÃO: O uso de máscara é recomendado universalmente para a prevenção da transmissão da COVID-19, sendo frequente a observação de erros. Pretendeu-se avaliar conhecimentos e práticas de uso de máscaras, de forma a determinar a necessidade de medidas de educação para a saúde.MATERIAL E MÉTODOS: Estudo analítico observacional transversal através de questionário de autorresposta aplicado a uma amostra por conveniência de utentes adultos de três unidades de Cuidados de Saúde Primários.RESULTADOS: Obtiveram-se 299 questionários válidos, com uma amostra predominantemente constituída por elementos do sexo feminino (71,6%), com uma média de idades de 45,0±15,1 anos. O tipo de máscara identificado como mais usado foi a máscara cirúrgica (82,4%), sendo o principal motivo da escolha a eficácia de proteção (53,6%). Quem percecionou maior risco de infeção opta por máscaras com maior eficácia (54,6% vs 26,5%; p=0,046), enquanto quem referiu não sentir necessidade de usar máscara escolhe em função da disponibilidade (50,0% vs 22,2%; p=0,025). Quem considerou a máscara necessária apresentou menor número de erros na utilização (p<0,001) e uma maior taxa de desinfeção das mãos (82,3% vs 23,5%, p<0,001). Não se observou nenhum caso de utilização da máscara sem erros.DISCUSSÃO: Cerca de 98% das pessoas referiu usar máscara sempre ou a maioria das vezes que saía de casa, cumprindo as recomendações em vigor. As pessoas não vacinadas sentem-se em maior risco de contrair a doença, revelando confiança na eficácia da vacina.CONCLUSÃO: O conhecimento da população em relação às máscaras e ao seu objetivo potencia a sua eficácia e correta utilização.
Introduction: Anaphylaxis is significantly underdiagnosed, and the medical community’s knowledge about it is precarious. The aim of this study is to characterize the patient population and the Emergency Department approach of anaphylaxis.Material and Methods: Retrospective study of adult patients attending the Emergency Department of a tertiary care Portuguese hospital, over a year, with anaphylaxis. Data were obtained from each patient’s clinical records and anonymized. A questionnaire evaluating knowledge about the notification of anaphylaxis was applied to Emergency Department physicians.Results: The study included 69 patients. Cutaneous (97%) and respiratory features (80%) were most prevalent; 22% of patients presented with shock or related symptoms. There were no reported biphasic reactions or deaths. The likely allergen was identified in 73%, most commonly food; 12% of reactions were related to a previously known allergen. Epinephrine was administered to 15%. Referral to an Immunoallergologist was done in 36% of patients, and 10% received or already possessed an epinephrine autoinjector. Among six parameters recommended for auditing clinical practice, 70% of cases fulfilled less than half. Only 13% of physicians knew it was mandatory to register all cases in the Portuguese Catalogue of Allergies and Other Adverse Reactions, and only 4% knew how to do it; regarding notification to the National Authority of Medicines and Health Products results were slightly better.Discussion: Many patients with anaphylaxis present to the Emergency Department every year, and their clinical approach is not in agreement with national guidelines. Conclusion: An educational program to increase medical awareness of the national guidelines and mandatory notification of all anaphylactic reactions should be implemented.
Introdução: A consulta aberta é uma consulta com marcação no próprio dia, para resolver situações de doença aguda. A sua desadequada utilização é um problema recorrente que gera incapacidade de resposta adequada aos utentes. Durante a pandemia por COVID-19, houve uma reformulação da atividade assistencial nos cuidados de saúde primários e foi necessário limitar o contacto presencial com os utentes. Objetivos: Conhecer o impacto da COVID-19 na utilização da consulta aberta, como ponto de partida para a procura de soluções para este problema. Métodos: Estudo observacional descritivo com componente analítica, da consulta aberta em abril/19, abril/20 e abril/21, numa unidade de saúde familiar, com caracterização sociodemográfica dos utentes e avaliação dos motivos de consulta e sua pertinência. Resultados: Realizaram-se, em média, 18 consultas por dia em 2019, 19 em 2020 e 31 em 2021. Não se observaram diferenças nas características sociodemográficas dos utentes entre os períodos analisados, havendo sempre predomínio do sexo feminino e idade média entre 45 e 52 anos. Pré-pandemia, prevaleciam motivos gerais e musculoesqueléticos. Em 2020, aumentou o peso relativo das queixas respiratórias e, em 2021, foi restabelecido o padrão pré-pandemia. O ano relacionou-se com a adequabilidade do motivo (p<0,001), com valores de inadequabilidade de 47% em 2019, 19% em 2020 e 31% em 2021. Os erros mais frequentes são os mesmos – queixas clínicas não agudas, visualização de exames complementares e renovação/pedido de baixas – mas com pesos relativos diferentes (p<0,001). Conclusões: É fundamental uma adequada educação dos doentes quanto aos motivos corretos para recurso à consulta aberta, bem como assegurar uma adequada acessibilidade às restantes modalidades de consulta, para não motivar o recurso indevido à consulta aberta.
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