RESUMO -(Florística e fitogeografia da vegetação arbustiva subcaducifólia da Chapada de São José, Buíque, PE, Brasil). Foi realizado o levantamento da flora angiospérmica de um trecho de vegetação arbustiva subcaducifólia na Chapada de São José, Buíque, Pernambuco, com a finalidade de ampliar o conhecimento sobre a flora daquela chapada, bem como compreender suas relações florísticas com outros conjuntos vegetacionais do Nordeste, especialmente no semi-árido. A flora angiospérmica foi composta por 192 táxons, distribuídos em 130 gêneros e 60 famílias. Euphorbiaceae, Caesalpiniaceae, Myrtaceae, Mimosaceae, Fabaceae e Cactaceae foram as mais representativas em número de espécies. A análise de agrupamento revelou que o tipo de substrato exerce uma forte influência na repartição espacial das espécies dentro do semi-árido e confirmou a existência de um conjunto de espécies indicadoras das áreas sedimentares, formado por Caesalpinia microphylla Mart. (Caesalpiniaceae), Bocoa mollis (Benth.) R.S. Cowan (Fabaceae), Byrsonima gardneriana A. Juss. (Malpighiaceae) e Zanthoxylum stelligerum Turic. (Rutaceae). A flora da área de estudo é relacionada com a da caatinga do cristalino, caatinga de áreas sedimentares e carrasco. Todavia, o alto número de espécies de Myrtaceae, raras na caatinga, o carácter subcaducifólio da vegetação e a presença de Cactaceae e Bromeliaceae, típicas da caatinga, sugerem que a área de estudo representa o final de um gradiente que se inicia em áreas sedimentares situadas em menores altitudes.
IntroduçãoO semi-árido do nordeste brasileiro ocupa cerca de 800.000 km 2 e possui flora e vegetação muito diversificadas, em virtude da interação do clima marcadamente azonal, caracterizado por duas estações, uma chuvosa (3-5 meses) e outra seca (7-9 meses), com outros fatores mesológicos (solo, relevo e altitude) e processos geológicos estabelecidos principalmente no Terciário e Quaternário (Andrade 1977;Souza et al. 1994). Durante o Terciário prevaleceram sucessivas e intensas etapas erosivas na superfície da região, desgastando-a profundamente até o limite do embasamento cristalino, deixando, porém, relevos residuais dispersos na depressão interplanáltica, por efeito da erosão diferencial (Ab'Saber 1962). No decorrer daquelas modificações geomorfológicas, formações não florestais, caducifólias e espinhosas se estabeleceram principalmente na depressão enquanto as formações florestais ou arbustivas estacionais não espinhosas ocuparam os relevos residuas (serras e chapadas).A maioria dos trabalhos quantitativos e qualitativos realizados no semi-árido ocorreu na vegetação da