Este artigo insere-se nos recentes estudos sobre a história do Português Brasileiro na perspectiva da Sociolinguística Histórica e tem por objetivo analisar as estratégias acusativas, a partir da gramaticalização do você no quadro pronominal de segunda pessoa, em cartas pessoais amorosas, trocadas por sertanejos na década de 50 do século XX. As questões iniciais que envolvem a investigação são as seguintes: i) como se deu a implementação do você no paradigma de segunda pessoa na função acusativa e a resistência do clítico te como estratégia acusativa frente a formas do paradigma de terceira pessoa? ii) Quais contextos morfossintáticos favorecem a ocorrência das formas alternantes na função acusativa na posição pós-verbal? As pesquisas realizadas anteriormente por Lopes et al. (2018), Gomes; Lopes (2014) e Ataíde e Lima (2018) complementam o suporte teórico-metodológico na perspectiva da Sociolinguística Histórica proposto por Conde Silvestre (2007) e do modelo de Tradição Discursiva desenvolvida por Kabatek (2006, 2012); Andrade; Gomes (2018) e Ataíde (2020). Os resultados da análise apontam para a confirmação da hipótese de Lopes et al. (2018) quanto à resistência do clítico te na função acusativa. No que se refere à posição do clítico, constatamos que a próclise é a posição preferida para a colocação do acusativo pelos missivistas e os contextos favorecedores da ênclise foram o início de sentença e quando acusativo foi o pronome você.
Neste artigo, buscamos analisar a representação do acusativo nas formas dos paradigmas tu e você nas cartas de amor do litoral e do sertão pernambucano. Tomamos como base os resultados alcançados em estudos prévios do Projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB), visando ampliar as pesquisas a partir do acervo documental de manuscritos pernambucanos dos séculos XIX e XX. O corpus selecionado constitui-se de 80 cartas de amor, sendo 40 cartas trocadas por um casal da região do litoral e 40 trocadas por um casal do sertão pernambucano. Para analisar o contexto morfossintático acusativo nas cartas pernambucanas, adotamos trabalhar com um grupo de fatores específicos, a fim de sistematizar a análise por meio da rodagem dos dados no programa Goldvarb X: tratamento na posição de sujeito, forma de representação, padrão de organização sintática, sexo, faixa etária, período, parentesco, localidade e subgênero. Nas análises, o quadro geral de uso dos acusativos evidenciou que os pronomes do paradigma de terceira pessoa - você no litoral e lhe no sertão - foram as estratégias predominantes nas cartas. O clítico te, em ambas as localidades, foi a segunda estratégia mais utilizada pelos missivistas. No sertão foi computada uma ocorrência do clítico o/a, estratégia ausente no corpus litóreo. Esse panorama parece mostrar um movimento de “instabilidade-estabilidade” na função acusativa, uma vez que a partir da inserção da forma você no paradigma pronominal brasileiro, houve uma reorganização dos subsistemas em que formas de terceira pessoa podem ser predominantes (ainda que timidamente), mas que não conseguem excluir/minimizar o uso do clítico te nessa função.
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