O objetivo deste artigo é analisar o contexto de produção das Declamações maiores atribuídas a Quintiliano, escritas entre os séculos I e IV EC. Uma vez que o gênero declamatório surgiu no mundo greco-romano como um exercício escolar, é possível conjugar os preceitos teóricos da educação retórica no Império Romano com a prática das declamações, identificando em que medida os cânones literários recomendados no livro X da Institutio oratoria influenciam na construção das personagens das Declamações maiores 14 e 15, objetos deste estudo. Também se investiga quais sujeitos tinham acesso à educação em Roma, os possíveis praticantes e autores das declamações e como tais textos manifestam, por meio de personagens, diferentes personae e vozes, oriundas de diversas camadas sociais. Este artigo se propõe a demonstrar que a leitura da obra não pode se guiar apenas pela função-autor, distanciando a produção dos sujeitos históricos que supostamente a compuseram. Ao tratar de temas como tensões entre homens ricos e pobres, estupro, abuso de poder e deserdação, o gênero declamatório pode – à primeira vista – ser interpretado como uma ferramenta contundente de discussão social e denúncia. No entanto, considerando o seu contexto de produção e os prováveis declamadores, propõe-se que as declamações ao mesmo tempo contribuem e rompem com as narrativas de poder, traçando algumas possibilidades de negociar identidades e alianças por meio das personagens do cânone estabelecido.
<p><span lang="PT-BR">Neste artigo temos como objetivo apresentar uma tradução do proêmio do sexto livro da <em>Institutio oratoria</em>de Quintiliano, analisando as estratégias retóricas utilizadas pelo autor para a comoção do público através do seu relato. No proêmio deste livro, que encerra a primeira metade da obra, Quintiliano expõe os dramas da sua vida pessoal e lastima a morte prematura da esposa e dos dois filhos, em uma narrativa envolvente, trágica e fortemente marcada pelo tom patético. Com base no estudo do texto em latim, nas influências aristotélicas e na bibliografia dos pesquisadores que já se debruçaram sobre o tema, tentaremos colocar sob suspeita a prerrogativa de que o proêmio seria tão somente um desabafo público de Quintiliano sobre as suas próprias tragédias pessoais, como autor empírico, e procuraremos, para isso, apontar algumas das evidências textuais que nos permitem afirmar que o proêmio deste livro se consolida também como um exercício retórico de aplicação dos ensinamentos prescritos ao longo de seu manual retórico<em>, </em>particularmente no tocante à manipulação das emoções.</span></p>
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