RESUMO O reconhecimento das características culturais dos grupos sociais e de suas diferentes necessidades e concepções do processo saúde-doença, segundo Starfield, é um importante atributo derivado da atenção primária: a competência cultural. Por meio desse atributo, é possível desenvolver laços fortes com as pessoas e famílias alvo dos cuidados em saúde, obtendo-se maior satisfação, diagnósticos mais precisos e maior adesão ao tratamento. Mesmo num país como o Brasil, que ainda oferece um sistema de saúde universal e gratuito, populações minorizadas – por etnia, identidade de gênero, orientação sexual ou condição socioeconômica – enfrentam barreiras de acesso a esses serviços e apresentam piores indicadores de saúde. Tanto o profissional de saúde, quanto o usuário podem pertencer a vários grupos culturais simultaneamente, de acordo com sua identidade de gênero, idade, etnia, região, religião, orientação sexual, profissão ou papel que desempenha na família, classe social, bem como de outras características, e manifestar-se de maneiras culturalmente distintas em diferentes situações. É importante que o médico de família e comunidade reconheça que possui um conjunto de premissas e valores fundamentais que influenciam seu comportamento e sua interpretação do que é dito pelo outro. Devido a essa complexidade, esses aspectos devem ser considerados na discussão do processo saúde-doença e da construção de um plano de cuidados compartilhado. Este ensaio discute o desenvolvimento da competência cultural como uma resposta às barreiras de acesso à saúde para populações minorizadas no contexto da medicina de família e comunidade, com base na literatura. Foi realizada uma revisão exploratória do tema, que também identificou objetivos de aprendizagem e estratégias de ensinagem que podem ser incorporadas aos programas de residência em medicina de família e comunidade, visando colaborar com a sistematização do ensino desta competência, respeitando-se as especificidades regionais. Ele ainda aponta a necessidade de mudanças institucionais para incentivar e valorizar a prática da competência cultural, com disponibilização de tempo e infraestrutura para o desenvolvimento dessa competência pelos profissionais da atenção primária.
A Atenção Primária à Saúde é via preferencial de acesso ao sistema de saúde, tendo em vista seu papel ordenador, os benefícios da continuidade do cuidado e resolutividade deste nível de atenção. Diversas barreiras de acesso, dentre eles o horário restrito de funcionamento, fazem com que esse primeiro contato não seja facilitado. No Recife, novos equipamentos de Atenção Primária à Saúde vêm sendo implantados desde o ano de 2013: as “Upinhas 24 horas”. O objetivo deste trabalho é analisar o modelo “Upinha” apresentado como uma solução para ampliação de acesso. Foi realizada uma revisão da literatura sobre diversas estratégias existentes de ampliação do acesso, a partir das quais se analisou criticamente o modelo “Upinha 24 horas” às lentes dos modelos vigentes. Horário estendido, acesso avançado e acolhimento à demanda espontânea foram os modelos de ampliação de acesso revisados para embasar a discussão. O impacto do horário estendido na ampliação do acesso pode ser minimizado se outras medidas, como mudanças no modelo de agendamento, priorizando o acesso avançado, não forem concomitantemente implantadas. O modelo “Upinha 24 horas”, da forma como se apresenta, parece ser baseado na concepção de uma Atenção Primária à Saúde que funciona como complemento para “desafogar” os serviços de atendimento às urgências já existentes e não como ordenadora do serviço de atenção às urgências. Apesar de apontar numa direção inicialmente acertada, a implantação das “Upinhas 24 horas” parece ainda ser uma proposta incipiente na garantia de acesso.
Problema: Atualmente, o paradigma da produção de saúde é prodigalizado por uma miríade de interesses mercantis galanteadores do modelo biomédico, que supervaloriza o conhecimento científico moderno. Mesmo que seja desprestigiado pela soberania científica, cerca de 70% do uso popular das plantas medicinais é confirmado cientificamente, e esses saberes não institucionais são frequentes nas práticas cotidianas. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população de países em desenvolvimento utiliza-se de práticas tradicionais na atenção primária à saúde e, desse total, 85% fazem uso de plantas medicinais. No Brasil, 82% dos brasileiros usam produtos à base de plantas medicinais para cuidar da saúde. Perante este descompasso, a atenção primária à saúde destaca-se como espaço estratégico para adubar o terreno das práticas fitoterápicas. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo, do tipo relato de experiência, sobre o desenvolvimento de um jardim medicinal localizado numa Unidade de Saúde da Família do município de Recife, Pernambuco. Utilizou-se um registro sistemático das atividades por meio da confecção de um diário de campo com registro fotográfico, complementado por levantamento bibliográfico e pesquisa documental. Resultados: O projeto perpassou pelas etapas informacional, estrutural e de plantio, constelando vários saberes com base no espírito da multiprofissionalidade e da participação comunitária. Ao fim, os esforços culminaram na efetivação de um jardim medicinal, propiciando um espaço para a troca de conhecimentos e experiências. Conclusão: Conclui-se que a estruturação de um jardim medicinal no âmbito da atenção primária à saúde conclama um prodigioso potencial no fortalecimento dos princípios que norteiam esse nível de atenção, reposicionando o usuário no centro do modelo de cuidado e ampliando as opções terapêuticas eficazes e de baixo custo.
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