<p><span>http://dx.doi.org/10.5007/2175-8034.2015v17n2p75</span></p><p>Este artigo examina o campo da proteção animal em Porto Alegre (RS) desde um ponto de vista antropológico e etnográfico. Compreendemos que as contemporâneas iniciativas de resgate, adoção e proteção de animais de companhia em situação de risco e abandono, levadas a cabo por organizações não governamentais e múltiplas redes voluntárias, revelam a emergência de novas sensibilidades e moralidades para com os animais não humanos em contextos “pós-domésticos” (Bulliet 2005), reconfigurando as fronteiras entre o público e o privado, a esfera da intimidade e das políticas públicas. Por fim, concluímos que o exercício de domesticação contido nestas iniciativas é uma via de mão dupla: por um lado, tenta-se disciplinar e higienizar o espaço público e a conduta dos acolhedores de animais; por outro, busca-se educar os seres humanos para o convívio com membros não humanos das famílias, tornando-os responsáveis (em sentido moral, psicológico e legal) pelas suas novas famílias multiespecíficas.</p>
Resumo: Neste artigo, discutimos algumas reações sociais e simbólicas ao processo de invasão biológica conduzido por suínos ferais da espécie Sus scrofa (javalis e seus híbridos com porcos domésticos) na região de fronteira brasileiro-uruguaia desde um ponto de vista etnográfico. A partir das conexões estabelecidas pelos agentes locais entre o javali e outros entes da paisagem pampiana, como o ladrão de gado, o eucalipto australiano e a gramínea africana conhecida como capim-annoni (Eragrostis plana Nees), sugerimos que o suíno feral e sua agência são metonímicos de processos socioambientais mais amplos, ligados às transformações que a paisagem pampiana vem sofrendo nas últimas décadas. Nesse sentido, defendemos que a espécie invasora manifesta tensões mais amplas, concernentes às relações de propriedade e trabalho no meio rural, assim como se constitui como índice mais recente da lenta decadência de um modo de vida bastante específico: a pecuária extensiva sobre campos nativos, antigo pilar da ruralidade gaúcha.
This article examines the field of animal protection in Porto Alegre (Rio Grande do Sul, Brazil) from an anthropological and ethnographical point of view. We understand that the contemporary iniciatives of rescuing, adopting and protecting endangered companion animals -carried by non-governmental organisations and multiple networks of volunteers -unfold the emergency of new sensibilities and moralities concerning urban animals in so-called "post-domestic" contexts (Bulliet, 2005), reshaping the boundaries between the private and the public well as between the spheres of intimacy and public policy. We conclude that the domestication acts implied in these initiatives are twofold: on one hand, the volunteers want to discipline and higienize the public space and the behavior of animal adopters; on the other hand, they aim to educate human beings for living toghether with non-human family members, making them responsible (in the moral, psychological and legal senses) for their new multispecific families.
Recent perspectives on domestication have emphasized the importance of technical objects and other environmental elements as mediators of the relations between humans, animals and the many landscapes they inhabit. Using the concept of “architecture of domestication”, proposed by Anderson and others (2017), this article investigates the role of alambrados (wire and wooden fences) in the context of animal husbandry in the Brazilian-Uruguayan Pampa, the technical processes involved in their construction, as well as the new configurations and uses for these structures that have emerged along with the biological invasion of European wild boars (Sus scrofa) in the region. I will show that the alambrados are key elements in the difference between positive direct action and negative indirect action in relation to the animals of the herd within the Pampeano system of domestication.
The article discusses the social impacts of the COVID-19 pandemic on the meat processing industry in southern Brazil. Based on the notion of disaster capitalism, we examine how political and corporate agents have taken advantage of the health catastrophe to create a privileged space for simplifications and deregulation in this sector. According to our reasoning, they accelerate precarious work in the meat industry and amplify the harmful effects of agribusiness on local ecologies and global ecosystems. In light of this, we also emphasize the analytical potential that results from the intersection between the categories of syndemics and structural violence to displace the traditional analyses of risk groups and behaviors in highlighting environments and their agents.
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