Desde o surgimento da antropologia, no século XIX, a imagem é utilizada como uma forma de aproximação e tentativa de conhecimento do "outro". Desenhos, mapas e até mesmo registros fotográficos e fílmicos foram tão importantes para as narrativas etnográficas clássicas e modernas que passaram a constituir uma parte importante do trabalho antropológico. Essa imbricação característica dos trabalhos etnográficos tornou tarefa quase impossível mesurar os limites entre texto e imagem nas descrições antropológicas. Se podemos afirmar que inicialmente os textos antropológicos utilizavam as imagens apenas como recursos indiciários da alteridade, de forma a atestar o argumento do autor, na atualidade não podemos ser tão simplistas. Além de ainda usadas como provas do argumento do autor, as imagens passaram a ser, elas mesmas, objetos de estudo do antropólogo.Em parte, isso ocorre devido ao fato de, paralelamente ao desenvolvimento da antropologia como ciência, ter havido várias indagações sobre o papel da imagem, em especial a fotografia, como estatuto e prova do real. Assim como acontece com as palavras, também as imagens podem ser editadas e manipuladas. A mesma analogia ainda pode se estender: assim como os textos, as narrativas imagéticas também podem adquirir significados diferentes quando colocadas em diversos contextos. Em um momento em que até mesmo o caráter estritamente científico da antropologia passa a ser contestado, as aproximações e as relações entre texto e imagem se diversificaram de tal forma que, na atualidade, alguns experimentos etnográficos têm sido realizados com base em discursos imagéticos
Este artigo tem como objetivo propor uma análise da fotoperformance “BanqueteComidaCorpoCorpoComida”, desenvolvida pelo coletivo Fotocuir, grupo formado como parte do projeto de pesquisa Fotoperformance: Ação, Criação, Arte, Ativismo, Trânsitos Coletivos Contemporâneos entre os anos 2013-2016, na Universidade Estadual de Londrina, sob a coordenação da artista visual e performer Fernanda Magalhães. Com o objetivo de questionar padrões de comensalidade e sexualidade por meio da arte, o coletivo pensou e performou um banquete, no qual as pessoas (artistas e público) vestiam-se de comida e devoravam-se, de acordo com as preferências sexuais e alimentares de cada um. No artigo, o processo de construção dessa performance é exposto, com base nos relatos de Fernanda Magalhães e de outras participantes do coletivo. A análise é realizada tendo como base algumas discussões sobre estudos e arte queer, assim como ancora-se em reflexões dos estudos de performance e antropologia da arte.
RESUMOPretende-se no presente trabalho problematizar as barreiras estabelecidas e a hierarquia vigente entre verdade e ficção nas produções humanas, para, em um segundo momento, pensar tal hierarquia na produção de filmes etnográficos, e mais especificamente no cinema indígena. Partindo da reflexão sobre filmes produzidos pelo projeto Vídeo nas Aldeias (VNA), criado em 1986 com o intuito de formar cineastas indígenas, para que estes tivessem autonomia sobre o contar de sua própria história e realidade, podemos levantar a questão sobre a ficção presente em tais produções, ao refletir que, no cinema indígena, uma representação dificilmente será percebida como algo não real, o uso de discursos ficcionais permitem explorar os mundos místicos do imaginário indígena, além de representá-los. Expondo, assim como o discurso ocidental, que opõe e delimita áreas entre verdade e ficção reduz as formas de representação de uma realidade. Já que conhecer o imaginário do outro é também uma forma de o conhecer mais profundamente ao ponto que, ao expô-lo, expõe-se também suas subjetividades.Palavras-Chave: Ficção; Filmes etnográficos; Cinema indígena.1 Aluno/a do curso de Ciências Sociais da Uel (Universidade Estadual de Londrina). INTRODUÇÃOQuando pensamos na relação entre antropologia e cinema, torna-se necessário levar em consideração a história comum que possuem tais áreas do conhecimento em seus primórdios; mais especificamente na gênese cinematográfica, com a invenção dos primeiros instrumentos de captação de imagens, os papeis do cinema e da antropologia convergem-se em uma busca em comum, pois possuem a mesma alma: a do registro, a do conhecimento do "outro".Não é fato desconhecido que sempre houve uma busca por conhecer e representar os infitinos "outros" existentes no mundo, porém, as formas dessa representação muito foram questionadas enquanto a sua legitimidade e objetividade. Perante ao constante debate sobre a objetividade nas ciências sociais, a antropologia, que em seu início muito se questionava pelas subjetividades presentes em seus relatos influenciados pela visão de mundo daqueles que os escreviam, percebe no uso da imagem uma forma de complementar e, de certa forma, comprovar e exemplificar aqueles povos antes retratados apenas por palavras. Cria-se, a partir de então, uma outra
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