O artigo relaciona trabalho imaterial e subjetividade a partir de modos de controle vigentes em uma instituição bancária portuguesa. Resulta de um estudo de caso cujos dados foram coletados por meio de entrevistas individuais com empregados bancários e com representantes do setor, além de fontes documentais disponibilizadas pela empresa e por órgãos representantes do setor bancário em Portugal. Analisam-se dois modelos de gestão implementados pela instituição bancária, relacionados à noção de trabalho imaterial e aos mecanismos do novo paradigma tecnológico organizado em torno das tecnologias de informação. Os modelos de gestão potencializam modos de controle rizomático que produzem a existência individual e coletiva dos trabalhadores por meio de incessante "moldagem de si". O controle rizomático instala-se pela sutileza, sedução, sofisticação e justificação, uma vez que a gestão do trabalho imaterial outorga margem de liberdade aos trabalhadores através da gestão de si compreendida como autocontrole. Do controle rizomático advém uma subjetividade padronizada e consentida.
ResumoNeste artigo, analisam-se as relações de gênero no trabalho na ótica da masculinidade e propõe-se uma ampliação do foco dos estudos de gênero na Administração no Brasil. Ainda que os sujeitos masculinos do trabalho sejam amplamente estudados, é importante considerá-los da perspectiva de gênero e não apenas como sujeitos-padrão do trabalho, norma da qual as mulheres se distanciam. A presente pesquisa objetivou analisar como os ideais de masculinidade hegemônica engendrados em uma organização afetam a construção de estilos de vida de homens e mulheres. Os dados analisados à luz das teorias pós-estruturalistas indicaram que o contexto organizacional atua na produção e valorização de determinados estilos de masculinidade que se tornam hegemônicos em detrimento de outros. Além disso, as análises possibilitaram a compreensão das dinâmicas da masculinidade na organização pesquisada mediante os processos de subjetivação. Como contribuição teórica para os estudos organizacionais, esta pesquisa possibilita um olhar sobre as relações de poder e hierarquização entre as masculinidades, e não apenas a dominação do masculino sobre o feminino. Palavras-chave: Gênero; masculinidade; subjetividade; estudos organizacionais AbstractThis article examines gender relations at work regarding the issues of masculinity, and argues for widening the focus of gender studies within the organizational field in Brazil. Although male workers are widely studied, it is important to consider the gender perspective, questioning the idea of standard workers, from which norm women are detached. This study aims to analyze how hegemonic masculinity ideals produced in the context of an organization are experienced, and how they affect the life-styles of men and women. Data analyzed in the light of the post-structuralist theory pointed out the organizational context as active in the production and enhancement of certain styles of masculinity, which become hegemonic, in detriment of others. Furthermore, the analysis enabled an understanding of the dynamics of masculinity in the organization under study, considering the processes of subjectification. As a theoretical contribution to the organizational field, this study offers a view of power relations and hierarchies among masculinities, rather than only male domination over women.
O artigo discute como a reestruturação produtiva do trabalho bancário afetou os modos de trabalhar e de ser dos trabalhadores de uma centenária instituição bancária pública que implementou Programas de Apoio à Demissão Voluntária como uma das novas ferramentas de gestão. Trata-se de um estudo de caso que investigou 104 trabalhadores dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina que aderiram à terceira edição de um desses Programas, ocorrido na empresa em 2001, além de cinco gestores e três funcionários da área de Recursos Humanos da empresa diretamente envolvidos com os Programas ou com os desligados. A coleta de dados deu-se através de questionário, entrevistas individuais semi-estruturadas e fontes documentais. Os dados coletados foram submetidos à análise de conteúdo. Os resultados da pesquisa indicam que a reestruturação produtiva do trabalho bancário demarca a passagem de uma cultura de estabilidade e segurança para uma cultura de instabilidade e insegurança que afeta os modos de trabalhar e de ser dos bancários. O investimento que a empresa deseja, por parte dos sujeitos do trabalho diz, portanto, de uma mobilização subjetiva total e incondicional ao seu projeto e aos objetivos de lucratividade.
O presente trabalho discute a experiência de instantaneidade, velocidade e urgência que vem caracterizando a sociedade atual e que traz à cena novos personagens, como ilustra a figura do motoboy. Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva que contou com vinte participantes - motoboys de estabelecimentos de delivery de alimentos, e o presidente do sindicato da categoria. Os dados foram coletados através de entrevistas individuais semi-estruturadas, da realização de um grupo focal e de fontes documentais. A análise de conteúdo dos dados considerou o entendimento qualitativo da realidade social à luz da literatura pertinente. Os resultados indicam que o trabalho tipicamente imaterial dos motoboys condiz com a premissa de que "tempo é dinheiro". Em relação aos seus modos de trabalhar e de ser, ressaltam-se: a auto-imagem e a imagem de motoboy na mídia, a imposição e o controle dos frenéticos ritmos temporais pela organização do trabalho, a relação ambígua estabelecida com a sociedade da urgência e o cotidiano do trânsito, que expõe frágeis laços de solidariedade de uma categoria cujos membros não querem ser motoboys para sempre.
Aos estilos de vida da sociedade líquido-moderna (Bauman, 2001, 2007), associam-se indicadores de desempenhos vinculados ao curto prazo e à obsolescência condizentes com a gestão gerencialista (Gaulejac, 2007). Tal modo de gestão, constituído em essência por características ideológicas, aproveita-se dos discursos ligados à eficiência e eficácia para gerar uma falsa neutralidade da gestão nos ambientes de trabalho. O gerencialismo ganha vulto ainda ao expandir as mais diversas prescrições para além das empresas, contribuindo para que outras esferas da vida passem a ser produzidas segundo os moldes definidos pela gestão. Nesse contexto, merecem atenção os executivos, por se caracterizarem como ícones da (re)produção de estilos de vida (Tanure, Carvalho, & Andrade, 2007; Gaulejac, 2007; Boltanski & Chiapello, 2009). Diante disso, indagou-se: "Que possíveis influências da gestão gerencialista encontram-se na produção de estilos de vida de executivos?". E constituiu-se o objetivo de compreender que elementos da gestão gerencialista promovem a (re)produção de seus estilos de vida. Para tanto, tomou-se como método a história de vida. Tecidas a partir da realização de entrevistas em profundidade e analisadas à luz da literatura pertinente, as histórias de vida de dois executivos permitiram apontar que os seguintes elementos contribuem para a (re)produção dos estilos de vida de executivos: a glamourização do mundo executivo; as constantes situações de pressões vivenciadas no dia a dia de trabalho; a despersonalização do trabalhador avaliado com base em índices e resultados; e a relação com a família intimamente alcançada pela lógica da gestão. Ao produzir um indivíduo que se vê seduzido pelo glamour, a gestão gerencialista apresenta sua faceta de máquina produtiva e de controle social, uma vez que os estilos que dela resultam são estilos de vida, não somente de uma parcela da vida. Tal recurso, de certo modo, instila características e sensações compensatórias que mascaram os sofrimentos ou mesmo os mecanismos de poder e dominação existentes em tais modos de gestão.
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