ResumoA confiança pública, tanto na ciência como nas decisões políticas sobre risco, assenta numa necessidade essencial, mutuamente partilhada: a de que se estabeleça uma interacção entre especialistas e leigos. No âmbito deste trabalho, centrado no tema do risco e da sua caracterização e avaliação, pretende-se contribuir para o debate sobre a relação entre formas de conhecimento de cientistas e 'leigos' e sobre o lugar da ciência e do conhecimento científico na cultura das chamadas 'sociedades de risco'.Palavras-chave: comunicação; cientistas; leigos; cultura; risco IntroduçãoNas sociedades do mundo de risco em que vivemos (Beck, 1999) 1 , os resultados da aplicação da ciência já não permitem que se olhe o progresso (indissociável do desenvolvimento técnico e científico) como incondicionalmente bom. Assim, torna--se não só possível, como necessário, questionar as funções sociais da ciência.Já Merton (1985) afirmava que os sociólogos viriam a dedicar-se seriamente ao estudo sistemático da interacção da ciência com a sociedade somente quando a própria ciência chegasse a ser vista e difundida como um problema social ou como uma prolífera fonte de problemas sociais.* Departamento de Sociologia, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho. E-mail: carmen.diego@mail.telepac.pt 1 Segundo Ulrich Beck (1999), o discurso do risco, nas sociedades do mundo de hoje, começa onde a confiança na nossa segurança acaba, e quando a nossa segurança deixa de ser relevante, nomeadamente, quando as potenciais catástrofes ocorrem. O risco não diz respeito aos danos ocorridos. Não é o mesmo que destruição. Se assim fosse, todas as companhias de seguros iriam à bancarrota. Contudo, os riscos ameaçam destruição. Neste sentido, o conceito de risco caracteriza um peculiar estado intermédio entre a segurança e a destruição, onde a percepção de riscos ameaçadores determina pensamentos e acção. Esta peculiar definição da realidade de 'não-mais-mas-ainda-não'-não mais confiança/segurança, mas ainda não destruição/desastre -é o que o conceito de risco expressa e o que faz dele uma referência pública. Neste sentido, a sociologia do risco será uma ciência de potencialidades e julgamentos sobre probabilidades.
Os denominados desastres naturais afetam não só a infraestrutura económica dos países como a sua estrutura social (comunidades e populações), mas também a saúde física e psicológica dos seus membros. A avaliação do risco deverá incluir a avaliação da vulnerabilidade e a previsão do impacto tendo em conta os limiares de risco aceitável para uma dada sociedade. Um outro conceito deverá ser tido em linha de conta: a resiliência - a capacidade positiva dos indivíduos e grupos em contexto para lidarem com situações potencialmente causadoras de stress e trauma.
Resumo: Neste artigo, de divulgação científica, e reflexivo, abordamos o tema do clima, resultado de um delicado equilíbrio entre agentes variados, que ao ser quebrado induz mudanças climáticas, causadas por processos naturais da própria Terra, ou por forças externas, e mais recentemente resultado da ação humana com repercussões no observado aquecimento global, bem como no aumento de fenômenos cujo impacto social provocam os denominados riscos ou desastres naturais. A importância da interdisciplinaridade é salientada ao longo do trabalho, para um melhor entendimento das alterações climáticas; das suas causas e efeitos, do seu impacto na natureza e na sociedade, enquadrada no paradigma do desenvolvimento sustentável, em tempos de emergência de uma nova era geológica denominada de Antropoceno, onde o risco decorrente do impacto do comportamento humano no Planeta (risco antrópico) é preponderantemente negativo. A recolha de material para este trabalho foi de cariz bibliográfico e técnico, tendo também por base trabalho conjunto que tem vindo a ser desenvolvido pelos autores, e colegas, tanto no âmbito de publicações quanto no desenho de projectos de investigação, integrando as áreas da física e astronomia, sociologia e filosofia, aflorando, ainda, questões do âmbito da geologia. Considerando que o entendimento da multidimensionalidade deste objecto de reflexão está ancorado em dimensões culturais e comunicacionais, que permitem construções sociais de significados, e perceções, sobre as alterações climáticas, esperamos contribuir para repensar os pressupostos em que estão ancoradas as representações sociais, acionadas na interpretação da informação que é socialmente veiculada sobre as alterações climáticas e, nesse sentido, apelar à comunidade científica para a importância da divulgação tanto interpares quanto para públicos leigos, uma das dimensões do ethos científico.Palavras-chave: alterações climáticas; comunicação da ciência; perceções públicas; desenvolvimento sustentável CLIMATE CHANGE, CONTRIBUTIONS TO PUBLIC PERCEPTIONSABSTRACT: In this scientific dissemination, and reflexive, article, we address the theme of climate, the result of a delicate balance between various agents, which when broken induces climate changes, caused by natural processes of the Earth itself, or by external forces, and more recently the result of human action with repercussions in the observed global warming, as well as in the increase of phenomena whose social impact provoke the so-called risks or natural disasters. The importance of interdisciplinarity is highlighted throughout the work, for a better understanding of climate change; of its causes and effects, of its impact on nature and society, framed in the paradigm of sustainable development, in times of emergence of a new geological era called Anthropocene, where the risk arising from the impact of human behavior on the Planet (anthropic risk) it is overwhelmingly negative. The collection of material for this work was bibliographic and technical, also based on joint work that has ...
Risks have always been present throughout human history, however, today are qualitatively different, as many of them are anthropic (human-made). The fact that people are exposed to dangers for which they have no decision-making capacity depended on knowledge they often do not have in order to decide on possible acceptable risks. The pandemic situation we face now brings light on human-made risks; came and lifted the veil, if there were any doubts, about the impact on the quality of life on the Planet, as consequence of human decisions and behaviour. Two types of human-made risks will be addressed: climate change and the pandemic caused by the coronavirus (SARS-CoV-2); reflecting on the exposure of structural vulnerabilities, these risks bring forth the importance of social capital and social networks in reducing vulnerabilities, the investment in science and its dissemination, and prevention, as preparedness for future risks, promoting resilience. Thus, governance relationships between States, economic models and resilient communities will also be addressed.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.