A importância da juventude nas comunidades de vida no Espírito SantoQuem estuda a Renovação Carismática Católica (RCC) no Brasil tem se surpreendido com o surgimento e o crescimento das chamadas "comunidades de aliança e vida no Espírito Santo". No Brasil, esse é um fenômeno recente, registrado pelos pesquisadores apenas a partir do final da década de 1990 e nos anos de 2000 1 . Criadas por participantes de grupos de oração carismática, essas comunidades são um fenômeno internacional, já observado por Thomas Csordas (1997) nos Estados Unidos e por Martine Cohen (1990Cohen ( , 1997 na França. Leigos decidem se reunir para se dedicar ao louvor, à adoração ao Santíssimo, à evangelização, à cura espiritual e às mais diversas obras sociais. No léxico das comunidades, essas atividades são chamadas de "carismas".Entre seus membros, existem aqueles que procuram um tipo especial de consagração e passam a compartilhar as finanças e o cotidiano com outros, dividindo o mesmo teto e as despesas domésticas: formam a chamada "comunidade de vida". Os demais, que continuam a morar com seus familiares e a manter sua autonomia econômica, constituem a "comunidade de aliança". Alguns entrevistados afirmaram que ambas as comunidades são parte de um todo e não há hierarquia espiritual que defina a superioridade da opção de participar da "comunidade de vida"; contudo, 1. Não encontramos registros de pesquisadores sobre as comunidades de vida até o final da déca-da de 1990. Em seu livro, Machado (1996) refere-se às comunidades Emanuel e Bom Pastor, no Rio de Janeiro, que eram apenas "de aliança", mas nada comenta sobre comunidades de vida. Referências a estas aparecem em Carranza (2000), que aponta sua existência em Campinas, e em Miranda (1999), que descreve especialmente a comunidade Shalom de Fortaleza. Os trabalhos de Oliveira (2003, 2004) são dedicados à comunidade Canção Nova. Comunidades de vida no Espírito Santo juventude e religiãoTempo Social, revista de sociologia da USP, v. 17, n. 2 254Comunidades de vida no Espírito Santo: juventude e religião, pp. os membros "de aliança" revelam admiração especial pelos que optaram pela vida consagrada. A manutenção daqueles que estão na "comunidade de vida" depende em geral dos membros da comunidade de aliança: são eles que os apóiam materialmente.Como seguem uma dinâmica laica e não institucional, essas comunidades não têm sido sistematicamente registradas, nem pelos setores administrativos das paróquias e dioceses, nem pelo próprio movimento de Renovação Carismática. Dessa forma, não é fácil estimar quantas comunidades desse tipo existem no Brasil. Em pesquisa preliminar 2 sobre o tema foram obtidos dados sobre comunidades no Rio de Janeiro por intermédio de relatos dos membros da RCC: um dos entrevistados diz ter ouvido falar de uma comunidade de vida, outro fornece um endereço e, a partir dessas informações, procuramos fazer contato e visitas; nas comunidades visitadas, descobrimos mais informações sobre outras.Há comunidades de vida muito conhecidas e citadas por um grande número d...
O discurso sobre religiosidade contemporânea tem enfatizado a prioridade da experiência sobre a instituição ou organização religiosa. Em geral, os fiéis se referem apenas à mensagem ou a uma experiência mística especial para explicar sua atração e perseverança em participar de um determinado grupo ou movimento religioso. Nesse tipo de relato quase não se encontram menções ao papel da organização. No entanto, não são apenas os fiéis que subestimam a organização religiosa, também um setor importante da própria literatura em ciências sociais especializada em religião tem enfatizado pouco essa dimensão do religioso no mundo atual. Essa literatura tem chamado atenção para um processo de autonomização dos indivíduos em relação às instituições religiosas, ou seja, o processo de "desinstitucionalização" ou "desregulação religiosa", como diria Hervieu-Léger (1999). Ao se enfatizar 1 Doutora em Sociologia da Cultura e da Religião pela Boston University, Estados Unidos, professora na Universidade do Estado do Rio de Janeiro; autora, entre outros, de Coping with poverty: Pentecostals and Base Communities in Brazil (Temple University Press, 1994). Endereço: cemariz@alternex.com.br.
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