O artigo trata essencialmente do papel das biociências, visto como uma cultura específica, no imaginário social contemporâneo, no que concerne à vida, à saúde e ao viver humano em todas as suas fases. Os meios de comunicação, sobretudo através da imprensa de divulgação de massa - sendo privilegiada no artigo a imprensa escrita - difundem para o conjunto da sociedade modos de pensar e agir derivadas das atividades científicas, em andamento ou finalizadas, na área das biociências, que compõem um campo disciplinar especializado de amplo espectro. Destacamos no texto a autoridade não apenas intelectual como moral do discurso normativo oriundo dessas atividades, face a outros discursos presentes na cultura, sejam eles tradicionais - de origem nativa ou externa, como as orientais - sejam eles paralelos atuais, como os das chamadas medicinas ou saberes terapêuticos alternativos derivados dos movimentos de contracultura que remontam aos anos setentas. Nossa hipótese é que esta influência normativa atinge áreas do viver e setores cada vez mais amplos das populações, sendo possível afirmar que as ciências sociais, sobretudo a sociologia, não vêm atribuindo à questão da vida e da saúde humanas a mesma importância que atribui a outros aspectos da vida social, e que é urgente pensar a cultura da vida e do viver veiculada pelas biociências.
Aborda a singularidade alimentar de um grupo de frequentadores assíduos de academias e fitness da cidade do Rio de Janeiro. Destaca a relação do alimento com a manutenção da forma física e com a sociabilidade prevalecente. Em 12 academias das Zonas Norte e Sul da cidade fizeram-se observações etnográficas - diretas e participantes - e entrevistas abertas, durante três anos. Alimentar-se, para o grupo, significa articular um sistema de saberes ligados à ciência da nutrição visando administrar a forma física e o desempenho atlético. O alimento torna-se, assim, poderoso artifício químico para o aprimoramento estético do corpo.
Artigo analítico sobre a retórica das imagens de biociências em periódicos em bancas de jornal, que pretende contribuir para pesquisas empíricas sobre representações sociais dominantes no imaginário contemporâneo, analisando as imagens das capas da mídia impressa sobre vida, saúde e doença. As mensagens veiculadas buscam ser impressionantes, atrativas e, sobretudo, convincentes, o que mobiliza a análise da retórica, com sua capacidade de convencimento da palavra fortalecida pela imagem. O texto articula um ensaio teórico sobre metodologia de análise da retórica, com a apresentação de resultados preliminares de campo, coletados em Porto Alegre e Rio de Janeiro. A abordagem contribui para a análise do papel social da divulgação das biociências na cultura atual.
Resumo: Buscamos destacar os sentidos e significados que a dor representa para os praticantes de fisiculturismo nas academias da cidade do Rio de Janeiro. Foram investigadas oito academias entre as zonas norte e sul da cidade no período de 12 meses (2008)(2009), utilizando observações participantes, etnográficas e entrevistas abertas, além dos dados coletados em pesquisa de período anterior. A construção do corpo neste grupo está relacionada a organização e administração da intensidade e dos tipos de dor percebidos e interpretados pelos atletas ou praticantes assíduos, fato associado aos rituais de instituição que constroem a pessoa do bodybuilder. A dor corpórea é, portanto, não apenas parâmetro para a construção eficaz da forma, mas item fundamental para a demarcação hierárquica de papéis e de identidade daqueles que fazem parte da fração dominante no campo da musculação. É também, para alguns indivíduos, uma estratégia para superar o sofrimento. Palavras-chave: dor; sofrimento; musculação; bodybuilding; antropologia do corpo.
O objetivo deste estudo é compreender a função do ambulatório na dinâmica das relações de poder e construção de identidade da profissão de terapeuta da medicina ocidental contemporânea. Para a realização do trabalho, foram coletados dados através de entrevistas abertas e observações diretas, em duas unidades hospitalares da cidade do Rio de Janeiro (Hospital Pedro Ernesto, Posto de Atendimento Médico São Francisco Xavier), com 12 médicos. O ambulatório surge no discurso dos profissionais em início de carreira como instância negativa e monótona que impede o diagnóstico de novas patologias. Surge também como espécie de rito de passagem formador da identidade médica. Marcado pela frequência de pacientes oriundos dos estratos sociais mais baixos, esta dimensão pública das instituições médicas repercute relações de classe e dominação inerentes à nossa sociedade, mas também apresenta sinais de uma dinâmica no campo médico que pode contribuir para a compreensão dos processos sociais.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.