Este trabalho tem como tema a aquisição do constituinte-QU in situ por crianças adquirindo o Português Brasileiro (doravante PB). Tal construção é encontrada em outras línguas também e, de modo análogo ao PB, é aparentemente opcional no Espanhol e no Francês. Realizando um paralelo entre os estudos de outras línguas e o PB, analisamos a frequência da construção na fala infantil no PB, comparada à fala adulta, e, principalmente, os contextos que favorecem sua produção, em oposição à contraparte movida. Para tanto, utilizamos uma metodologia experimental que elicia perguntas em contextos sem e com Common Ground (informação previamente compartilhada) e com priming sintático (fenômeno em que a exposição a uma sentença facilita o processamento de uma outra sentença com estrutura igual ou similar), com o objetivo de verificar em quais contextos a produção de QUin situ é facilitada. Além disso, observamos também a escolha da estratégia de pergunta diante da influência exercida pelo estatuto do elemento-QU (como adjunto ou argumento). Os resultados das análises quantitativas sugerem que, na fala infantil, há um favorecimento do QUin situ em contextos de Common Ground. Também ficou clara a influência do priming sintático na fala de ambos os grupos, infantil e adulto. Podemos dizer, então, que a metodologia obteve sucesso na eliciação da construção estudada e evidenciou que as perguntas com QUin situ e QU-movido, embora aparentemente opcionais, não são intercambiáveis, já que o primeiro tipo de pergunta ocorreria na fala infantil apenas em um contexto pragmático específico.
No português brasileiro (PB), podemos fazer perguntas movendo o elemento interrogativo à esquerda (“O que o gato comeu __?”) ou mantendo-o in situ (“O gato comeu o quê?”). As estratégias parecem, à primeira vista, opcionais e o QU-in situ é reportado como uma estratégia produtiva no PB paulistano adulto (LOPES-ROSSI, 1996; OUSHIRO, 2012). Todavia, estudos com base no PB paulistano infantil espontâneo observam que as crianças quase nunca (ou nunca) produzem essa opção (SIKANSI, 1999; GROLLA, 2000; GROLLA, 2009). Já no dialeto falado em Vitória da Conquista (BA), observado por Lessa-de-Oliveira (2003), a construção emerge bem cedo na fala das crianças, sendo o mais utilizado no input recebido por elas. Para a autora, as crianças seguem um percurso de aquisição das estruturas interrogativas guiado por sua frequência no input. Com o objetivo de explorar a ordem de emergência das estratégias interrogativas na fala infantil e comparar ao input recebido pelas crianças, observamos um corpus de dados naturalísticos de cinco crianças falantes de PB paulistano, com faixa etária entre 1;02.28 e 4;11.12. Em nossos dados, as crianças preferiram o QU-movido, enquanto os adultos optaram mais vezes pelo QU-que. Além disso, o QU-in situ, sendo a estratégia menos utilizada pelas crianças, no geral, foi produtiva na fala adulta. Os resultados indicam que uma alta frequência no input de dada construção não induz necessariamente a sua maior produtividade na fala infantil.
Resumo: O presente trabalho concentra-se nos efeitos do Common Ground na produção de perguntas com constituinte-QU in situ no português brasileiro, tendo em vista esta ser uma língua de movimento-QU aparentemente opcional. Neste artigo, procura-se discutir, com base em investigação empírica, como o conceito pragmático de fundo comum influencia na realização de tais perguntas, levando em consideração o comportamento de outras línguas que permitem tanto o QU-movido quanto o in situ, como o francês, o espanhol e o português europeu. Para tanto, ao fim deste artigo, será apresentado um novo experimento de aquisição que eliciou perguntas-QU em um contexto de pressuposição enriquecida. Os resultados sugerem que há, de fato, uma associação entre o QUin situ e o contexto pragmático, tanto nos dados adultos (grupo controle) quanto nos dados infantis. Palavras-chave: quin situ; interrogativas-qu; common ground; português brasileiro.
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