A correspondência pessoal simboliza um testemunho do olhar e da memória dos sujeitos sobre determinados acontecimentos de uma época e representa ainda uma fonte significativa para estudos históricos e linguísticos de épocas passadas. Assim, cartas de imigrantes e de seus descendentes são uma fonte valiosa para as pesquisas que envolvem os contatos linguísticos e as variações e mudanças linguísticas decorrentes deles, como aquelas que se dão através de fenômenos tradutórios resultantes do contato entre o alemão e o português falado no Brasil. Neste trabalho, através da análise de uma carta escrita em português por um descendente de imigrantes alemães e com base em pressupostos teóricos da sociolinguística e dos estudos da tradução, pretende-se ilustrar brevemente a trajetória histórica e linguística desses sujeitos, mostrando a influência que as línguas em contato têm umas sobre as outras e garantindo visibilidade ao plurilinguismo ‒ que, embora ainda largamente ignorado, é característica basilar do povo brasileiro.
Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados iniciais da possível influência da perífrase estar+gerúndio, do português, sobre a realização da progressividade no Hunsrückisch. Embora os processos de mudança e variação linguística não se limitem àqueles causados por situações de contato linguístico, este estudo enfoca processos motivados, pelo menos em parte, pelo contato linguístico, em particular, o processo de realização da progressividade. Ao mesmo tempo, pretende-se proporcionar um panorama das construções mais utilizadas pelos falantes de Hunsrückisch contemporâneo no Brasil para a realização da progressividade nessa variedade linguística: o tun-progressivo e o am-progressivo, argumentando a favor da hipótese de que o uso mais frequente dessas construções tem, entre suas motivações, o contato linguístico com o português local bem como a situação de bilinguismo decorrente desse contato e a possível influência da perífrase estar+gerúndio – que teria suas funções replicadas pelos falantes dessa variedade dialetal da língua alemã. Essa replicação de funções sintáticas pode ser explicada através do processo de replicação funcional, baseado no conceito de construções-réplica (Replika-Konstruktionen) proposto por Heine & Kuteva (2005) e no processo de pattern replication, proposto por Matras (2020). Para verificar essa hipótese, parte-se da análise do uso atual do tun-progressivo e do am-progressivo por falantes de Hunsrückisch bem como da análise do uso dessas construções em cartas pessoais escritas por imigrantes alemães e seus descendentes nos séculos XIX e XX, a partir de dados orais e escritos do projeto ALMA-H e do subprojeto ALMA-Histórico. Este artigo representa, assim, uma contribuição para os estudos do plurilinguismo e dos contatos linguísticos no âmbito do projeto ALMA-H.
Resumo: Friedrich Gerstäcker foi um viajante e escritor alemão. Nasceu em Hamburgo em 1816 e dedicou sua vida a explorar as colônias do novo mundo, escrevendo diversas obras com foco principal na imigração alemã durante o século XIX e nas consequências desse movimento para o povo alemão. Antes de iniciar sua carreira como escritor, Gerstäcker viajou pelas Américas e por diversos outros países, conheceu de perto a vida dos imigrantes e viu na sua escrita uma forma de colaborar para a divulgação de informações acerca das questões envolvidas no processo de imigração. A coletânea de suas obras compreende mais de quarenta volumes; somente sobre a imigração alemã no Brasil, escreveu três obras − todas publicadas na Alemanha na década de sessenta do século XIX. Contudo, só muito recentemente uma dessas obras foi traduzida para o português e publicada no Brasil. Neste trabalho, pretendemos destacar a importância desse autor dentro do polissistema literário brasileiro e discutir os motivos e as possíveis consequências do seu esquecimento. Palavras-chave: Friedrich Gerstäcker. Migração no século XIX. Literatura traduzida. IntroduçãoAinda que a questão 'autores canônicos x autores esquecidos' não represente uma discussão recente, ela certamente continua sendo necessária. No Brasil, é abordada por diversos autores, sob os mais variados ângulos (COUTINHO, 1996;PERRONE-MOISÉS, 1998; ALEXANDER, 2010, entre outros). Segundo Pausch (1991), quando nos perguntamos sobre autores esquecidos, estamos nos referindo, na verdade, à parte encoberta do iceberg − aquela infinitamente maior, que fica sob a água, ou seja, estamos nos referindo a um número sem fim de autores. Os que não foram totalmente esquecidos representam apenas a ponta do iceberg e alguns destes compõem, então, o que chamamos de cânone literário: um grupo de obras consideradas modelo ou, nas palavras de Alexander (2010, p. 124), "uma coleção de textos consagrados". O mecanismo de composição do cânone literário é bastante controverso e isso faz parte imanente de sua natureza, posto que
IntroduçãoO tradutor é, ao mesmo tempo, receptor e produtor: descobre e interpreta um texto e produz outro. Entretanto, a tradução não se limita à leitura e interpretação de um texto e sua retextualização na língua de chegada: ela pressupõe uma decisão entre duas ou mais possibilidades, concretas e legítimas, de interpretação do texto de partida, uma decisão sempre marcada pela subjetividade do tradutor, que está, inevitavelmente, associada à sua cultura, suas crenças, suas vivências e aos objetivos da tradução. Baseando-nos no texto do romanista alemão Ottmar Ette, "Com as palavras do outro. O tradutor notável é um excelente mentiroso", pode-se tomar a tradução não apenas como uma ponte entre culturas diferentes, mas como produção e inter-relação de diversos aspectos, pois o texto do tradutor só pode captar nas palavras da língua de chegada aquilo que é imaginável ou pelo menos se encontra nas fronteiras do imaginável nela. A mentira estrutural representa o preço que a cultura tradutora precisa pagar caso queira ampliar suas próprias possibilidades de pensamento, e por conseguinte suas formas de expressão filosóficas, literárias e artísticas.
Apresentação
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