Disputas pela memória no ensaio argentino -o incômodo "Invierno", deJuan José Saer Cristiane ChecchiaPara um observador postado à beira de um rio, a visão da margem oposta tranquiliza e descansa o olhar, completando a ideia, o arquétipo da noção de rio. Cumpre-se uma expectativa. Com o Rio da Prata, contudo, não se passa o mesmo. Um observador que de uma das margens lança a vista ao outro lado se dá conta de que falta esse elemento fundamental à configuração dos rios: a margem oposta. Se, na maioria dos grandes rios da região, as duas margens são visíveis durante a maior parte de seu transcurso, o que faz com que a "forma" ou a "ideia" clássica de rio se mantenha intacta na imaginação, com o Rio da Prata "esa familiaridad desaparece, y tendemos a representárnoslo sin forma precisa tendiendo vagamente a lo circular" (SAER, 2003, p. 29).
Mediante a vigorosa máquina de silêncio que se impôs até recentemente no Brasil a respeito da última ditadura, tornou-se recorrente pensar nossos processos de memória analisando-os em comparação aos demais países do Cone Sul. Entre a análise do conjunto da região e a singularidade nacional, o processo brasileiro revela-se frequentemente “por subtração”, a partir do que não foi feito em relação aos vizinhos, sobretudo em relação à Argentina. À luz da política revisionista e autoritária do atual governo, este artigo se propõe a especular sobre os desdobramentos de nossos processos bloqueados de memória e como tais bloqueios podem ser enfrentados por uma memória em trânsito, mobilizada literariamente na conexão das histórias recentes do Brasil e da Argentina, a partir da leitura de três romances brasileiros publicados recentemente: Pessoas que passam pelos sonhos, de Cadão Volpato (2013), A resistência, de Julián Fuks (2015) e Mar azul, de Paloma Vidal (2012).
Este estudo aborda três intervenções artísticas do movimento social boliviano Mujeres Creando, instaladas em bienais e mostras artísticas realizadas em La Paz, Quito e Santiago de Chile entre os anos de 2016 e 2018. Denominadas de “Altares Blasfemos”, essas instalações consistiam em uma crítica contundente à díade Estado-Igreja Católica que sustenta o patriarcado e a violência histórica contra a mulher na América Latina. Por meio da reprodução caricaturesca de imagens do imaginário cristão e da recriação de figuras subversivas da iconografia católica, as artistas propuseram uma espécie de imagem insuportável, ou seja, uma expressão artística que pretende ser tão grotesca quanto a experiência histórica que visa representar. Dada as profundas estruturas teológico-coloniais ainda arraigadas nas mentalidades e instituições latino-americanas, tal sacrilégio obviamente gerou diferentes tipos de reação - da tentativa literal de exprobração e apagamento da obra a diferentes formas de censura jurídico-burocrática. Apoiado em trabalhos de Didi-Huberman, Jacques Rancière, Aline Miklos, entre outros, o estudo procura levantar questões sobre as particularidades desse tipo de intervenção artística e suas reverberações em um projeto de dissenso radical com as conformações do poder colonial-capitalista ainda vigente na América Latina.
En este trabajo reflexionamos sobre lo que puede resultar de la aproximación de tres instituciones, en principio, muy distantes entre sí: la universidad, la cárcel y la literatura. La reflexión parte de nuestra experiencia en "Direito à Poesia-círculos de leitura e escrita com pessoas em privação de liberdade", un proyecto de extensión universitaria que, desde 2015, realizan profesores y estudiantes de la UNILA, junto con internos del sistema penitenciario de la ciudad de Foz do Iguaçu (Paraná, Brasil). A partir de "Direito à Poesia" y del diálogo con proyectos que nos han inspirado, argumentamos que, así como la universidad ha sido y debe ser un espacio para pensar críticamente la cárcel, la cárcel debe ser reconocida como un espacio importante para pensar de forma crítica la universidad, al igual que esa otra institución que también se ha ocupado de ella: la literatura.
Resumo Parte da literatura brasileira contemporânea evidencia um vigoroso esforço na luta contra o esquecimento sobre o período da ditadura civil-militar vivida entre os anos 1964 e 1985. Entre tal produção, encontram-se os trabalhos de uma nova geração de escritores que lidam com os restos do passado a partir, muitas vezes, do registro autobiográfico, de olhares permeados pela distância e pela perspectiva infantil. Em alguns desses relatos, a presença de personagens viajantes, desterritorializados, e deslocando-se entre fronteiras e idiomas parecem sugerir que o trabalho da memória se aprofunda a partir do trânsito, do caminhar e de desvios que frequentemente eludem os limites impostos por barreiras identitárias e de nacionalidade. É a partir dessa percepção e de uma reflexão sobre os conflitos em torno das memórias do último ciclo de ditaduras do Cone Sul que proponho a leitura de Noite dentro da noite (2017a), de Joca Reiners Terron. Apresentado como uma autobiografia, o romance é narrado pelo personagem Curt Meyer-Clason, o conhecido tradutor de Guimarães Rosa para o alemão. É esse narrador misterioso que lentamente enlaça a infância do protagonista amnésico ao passado recente do Brasil e do Paraguai sob ditaduras. Tal proposta de leitura é inevitavelmente atravessada pelo atual contexto de esgarçamento do horizonte democrático contemporâneo.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2025 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.