Este ensaio refaz o percurso empreendido pela literatura brasileira desde a década de 1840 até a atualidade, para levantar a irônica hipótese de a poesia encontrar no computador a possibilidade de recuperar o espaço e o prestígio de que usufruía antes da consolidação do romance nos trópicos. A abordagem respeita a cronologia, mas se pretende menos historiográfica do que teórica, portanto é forçosamente lacunosa e ziguezagueante. Equilibra o enfoque de buscas estéticas empreendidas em determinados períodos e a avaliação de mudanças suscitadas pelos novos meios de desenvolvimento e escoamento da ficção. A argumentação se ancora em obras de autores marcantes, com destaque para Machado de Assis, que praticou diferentes gêneros literários, cuja reorganização interferiu na própria construção de sua carreira. Sua presença desde a abertura até o fecho deste texto oferece ainda o benefício de nos imunizar contra a espúria ideia de evolução do fazer artístico.
Sérgio Sant'Anna estreou em 1969 e, de lá para cá, publicou doze livros de ficção, além de dois volumes de poesia e uma peça de teatro. Sua prosa se compõe de contos, novelas e romances de uma singularidade tal que levou José Castello a afirmar alguns anos atrás que cada texto parece “reter o frescor da primeira vez”.De fato, o escritor carioca vê o estilo não como marca de época ou de ego, e sim como consequência da busca de descobrir a configuração reclamada pelo conteúdo, que varia incessantemente. Essa percepção já havia levado Manuel Bandeira a diferenciar forma de fôrma e Clarice Lispector a falar em “procura humilde”. É traço da poesia e da prosa que, a partir da aragem libertária do início do século XX, intensificou o cultivo da autoconsciência e da afirmação artística.Em conversa com Dau Bastos, Iorans Souza, Juliana Cardoso Lobo e Vaneska Prates, Sérgio Sant'Anna atribuiu essa visão da literatura ao convívio com a vanguarda mineira. Viagens e outras experiências consolidaram uma concepção da vida igualmente iconoclasta. O resultado perpassa sua obra, toda ela comprobatória de que, apesar da falta de pendor humano para a ética, a estética é um campo em que ainda logramos alguma vitória sobre nossa inevitável pequenez.
Respondendo a uma verdadeira bateria de perguntas, Leonardo demonstrou uma consistência que, juntamente com a beleza de seus textos, deixava entrever um futuro promissor. Infelizmente, alguns anos depois faleceu -- o que torna ainda mais significativa a publicação desta entrevista. Considerado parte de uma geração nomeada fluidamente como “Pós-pós”, o saudoso poeta não se via à frente de nada, apenas escaldado o suficiente para encarar tradição e contemporaneidade como complementares. Postura semelhante adotava na relação com as demais artes, em abertura cuja fecundidade se percebe em sua poesia.
Em 2010 fui convidado a participar do debate de lançamento de A reinvenção do escritor: literatura e mass media, resultante da tese de doutoramento de Sérgio de Sá. Sabendo que o autor é professor de Comunicação (UnB), me preparei para deparar uma série de pontos de vista em comum, mas também as discordâncias históricas que, com alguma frequência, tensionam as relações entre os jornalistas e as faculdades de Letras.Para minha surpresa, encontrei o melhor texto sobre a ficção nacional de nosso tempo que li até agora. Entre as explicações para a qualidade do trabalho, destacaria o calor e o brilho com que o ensaísta trata o literário, do qual sempre preserva o lugar e realça o valor. Para tanto, mobiliza uma bibliografia com a qual dialoga com coragem e dinamismo, atingindo sempre a consistência e a profundidade.Entusiasmado com o livro, topei resenhá-lo para o Correio Braziliense e, posteriormente, propus esta entrevista, em que Sérgio mais uma vez se posiciona sem subterfúgios. Ora nos convida a abrir os olhos para outros meios, ora desce a lenha no que há de lixo no presente, para louvar a qualidade atingida por uma série de ficcionistas que, para nossa alegria, estão plenamente em atividade.
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