A filologia como crítica textual tem buscado, ao longo do tempo, atualizar/renovar suas práticas editoriais em razão das situações textuais examinadas em suas especificidades, quanto aos processos de produção e transmissão dos textos nos contextos de circulação e recepção e também das tecnologias disponíveis. Na práxis filológica, colocada em ação pelo Grupo de Edição e Estudo de Textos (GEET), interagem diferentes áreas do saber para dar conta do estudo crítico-filológico e da edição dos textos teatrais censurados, sobretudo, mas também de outros textos de escritore(a)s da literatura baiana e, consequentemente, brasileira. Nesse sentido, firma-se o diálogo da filologia com a arquivística literária, informática, história, crítica genética, sociologia dos textos, avançando-se para o campo das humanidades digitais.Desde 2006, a Equipe Textos Teatrais Censurados (ETTC) tem trabalhado com tais textos, estando seus membros sempre atentos às discussões que fizeram/fazem (re)pensar o labor filológico em suas práticas quanto às teorias e aos métodos adotados para cada obra/texto em estudo. Nosso propósito é, especialmente, o de fazer representar a dramaturgia/literatura silenciada e esquecida, produzida no período da ditadura militar na Bahia/Brasil. A cada edição realizada, firmamos o compromisso, enquanto leitores críticos especializados (filólogos-editores), com nosso público leitor, no sentido de dar a conhecer um recorte da cena dramatúrgica/ literária baiana e brasileira, suas produções, seus atores/agentes sociais e culturais que assumiram um papel relevante, político e crítico, na sociedade daquela época, atuando, de forma engajada, naquele contexto de repressão e luta, contribuindo, assim, para a atualização da memória do teatro na Bahia.O texto teatral nos desafiou a rever a prática da edição e crítica filológica de textos. Em sua materialidade e história, os textos trazem as marcas dos diversos sujeitos que neles atua(ra)m, desde o autor/escritor/dramaturgo, em uma produção individual ou coletiva, àqueles que datilografavam os textos, que encaminhavam à Censura Federal, que exerciam o julgamento censório (censores), que tomavam os textos nos ensaios e faziam alterações (atores, diretores, produtores), entre outros. No Arquivo Textos Teatrais Censurados (ATTC), em espaço virtual, reunimos textos e documentos dos acervos de mais de sessenta dramaturgos. Os textos são, em sua maioria, datilografados (pelo autor/escritor ou por outros sujeitos), com rasuras manuscritas do próprio autor/escritor ou ainda com intervenções de outras pessoas, atores e censores. Propomo-nos, então, estudar o texto em sua materialidade, e, por essa via, adquirir informações de fundamental importância para o procedimento filológico.Edição do Texto Teatral na Contemporaneidade Metodologias e Críticas 14 Outra particularidade do texto teatral diz respeito ao fato de ser sempre um texto inacabado, que se refaz a cada encenação, que conta com a participação de vários agentes para a construção do espetáculo ou mesmo do texto, que se altera a ...