A palavra letramento adquiriu uma polissemia que a afasta da noção de processo sócioistórico e a associa à codificação-decodificação da escrita. Sob essa concepção, não teríamos nada a acrescentar. Defendemos neste artigo, sob o enfoque da análise do discurso pêcheutiana e da psicanálise lacaniana, a concepção de letramento como fenômeno que influencia indiretamente culturas e indivíduos que não dominam a escrita, por ser um processo mais amplo do que a alfabetização. Como evidência dessa proposta, analisamos o texto de um aluno, que, instado a escrever sobre um tema distante da realidade em que vive, mobiliza lugares do arquivo e de sua memória particular, indicando um conhecimento da cultura escrita, mesmo que seu produto mostre a interpenetração de formas orais e escritas da língua, fato este que não é aceito por aqueles que defendem uma concepção a-histórica de letramento. Discutimos que sua escrita escapa das malhas redutoras de uma ideologia pedagogizante e reflete coerência discursiva estrutural ao desafio que lhe foi colocado. Propomos, ao final, que os educadores, em suas práticas, favoreçam a emergência da autoria de seus alunos.Palavras-chave: Letramento. Análise do discurso. Ideologia.
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