20não se aprofunda no real concreto. Redução do real, em qualquer matéria de significação.Assim, a imprensa -seja escrita, falada, ou digital -não cria a distância necessária para cumprir seu funcionamento institucional: o de apontar para um real social, o nosso, a partir de uma posição politicamente significada e que se marcaria significativamente em sua posição. Não há afastamento da situação na própria situação.No entanto, mesmo se o seu discurso é pautado pelo poder de quem governa, contraditoriamente, ela se a/representa como um poder em si.O imaginário social cede, ideologicamente, a ela, um poder monumental: "Deu na televisão"; "Está na Globo" são algumas formulações exemplares.Ela pode ser, assim, considerada como um quarto poder. Capaz de mobilizar, divertir, ensinar, produzir conhecimento, cultura, espalhar a ideologia dominante, alinhar posições de poder. Vende produtos e formas de vida.Empresa, expande o capitalismo. Cria fatos. Faz circular. Mesmo os "fatos alternativos", que ela difunde em sua indistinção com as mídias sociais. Diferentes modos de produzir verdade(s)Mesmo se o imaginário da objetividade da notícia, ou da informação, continue sustentado na noção de fato, para a mídia, é inegável que a construção e apresentação dos "fatos" têm passado por fortes deslocamentos. E, como sempre, mas, talvez, mais agudamente, afetando a relação verdade/ mentira, na era da chamada "pós-verdade". Era das redes sociais (redes de relacionamentos, preponderantemente, e não de relações sociais), era da guerra da comunicação, do excesso, da informação que cega, da interatividade.Em outro texto (Orlandi, 2017a), falei sobre a constituição, nestas condições da circulação da linguagem, do que chamo de escuta autoritária, aquela que se antecipa a seu interlocutor, e fecha o sentido do outro, para si.Lacrar? Isto nos leva a também pensar, aqui, a ditadura da audiência, e em tamanho despótico quando são milhões de interlocutores, pois são milhões de escutas que se manifestam e têm poder de viralizar. Assim se produzem e se projetam verdades, na massa social, aparentemente, amorfas, mas que, 21 como todo processo de significação, é politicamente constituído, e em que os sujeitos ficam presos na estrita dicotomia que daí deriva: verdade ou mentira?Temos um exemplo nos "fatos alternativos" (de Trump e muitos outros), por exemplo, quando a formulação é ditada por autoridades capazes de escancarar suas interpretações implausíveis, de uso imediato. Mas, também, com as mídias sociais, por seu lado, há uma extrema fragmentação que faz com que cada um possa ter "seu fato", sua verdade, o que limita extremamente a simples "conversa". A "não comunicação" de que fala M. Pêcheux.No fechamento e na fragmentação da interpretação e, no caso da mídia, na "construção" dos fatos, interpretação e fato se sobrepõem como se coincidissem: se interpreto assim, então é. Circularidade, e o que tenho tratado, em meus trabalhos (Orlandi, 2017), como o que, a partir de Nietzsche (2007), podemos considerar como demanda de superação da compreensibi...
Este artigo fundamenta-se na perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso de linha francesa, fundada na década de 60 do século XX por Michel Pêcheux e seus colaboradores Michel Plon, Paul Henry entre outros. No Brasil, esta teoria é desenvolvida sobretudo a partir dos estudos de Eni Orlandi, que promoveu uma (des/re) territorialização desta disciplina entre nós. Para o estudo da temática da tradautoria estamos fundamentados em Mittmann (2003). Temos como objeto de estudo o discurso materializado na obra: O Mar e a Selva-Relato de um inglês na Amazônia, tradução de Hélio Rocha, do livro The Sea and The Jungle, cujo autor é o jornalista Henry Major Tomlinson, que imprimiu ao seu discurso efeitos de sentidos sob a forma de relato. Propomos reflexões sobre os processos tradutórios em suas materialidades, na relação entre língua/história e produção de sentidos. Visamos também analisar o tradutor/autor, considerando a interpelação ideológica que o constitui como sujeito, apropriando-se e interpretando o processo tradutório de diferentes posições e funções discursivas. Concentramo-nos no estudo do funcionamento da tradautoria e como é historicizada, isto nos faz compreender a constituição do tradutor/autor no processo tradutório de acordo com a determinada formação discursiva em que se inscreve. Nesta teia do discurso observamos os sentidos sendo produzidos entre todos os participantes do processo: autor, tradutor enquanto leitor, tradutor enquanto autor, leitor do processo tradutório e outros leitores eventuais que surgem.
Neste artigo, tivemos como objeto de estudo o discurso romântico brasileiro e como material para análise recortes da obra Iracema, de José de Alencar. Nosso objetivo principal consistiu em compreender o acontecimento que era formulado por este discurso, à luz dos pressupostos teórico-metodológicos da Análise de Discurso, disciplina da interpretação – que assim foi concebida por Pêcheux (1990) e Orlandi (1996). Desse ponto de vista, pudemos elaborar que a escritura de Iracema explicitava o batimento entre memória e atualidade ao constituir-se enquanto o acontecimento da língua nacional, que se materializava com a emergência da construção do Estado-nação brasileiro, na segunda metade do século XIX. Dessa forma, este acontecimento promovia a ruptura com a língua portuguesa, instaurando uma individualidade – sentido que se historicizava com este acontecimento – da língua nacional.
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